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Mulheres em TI

Visto ainda como um universo predominantemente masculino, o setor de tecnologia tem percebido mais a presença feminina em seus diversos segmentos. Avanços importantes aconteceram desde Ada Lovelace (1815-1852), considerada a primeira programadora a criar algoritmos que permitiam que os valores de funções matemáticas fossem computados à máquina ou de Grace Hopper (1906-1992), com seu trabalho pioneiro em programar o primeiro computador digital de larga escala e criar o primeiro compilador, dando início à primeira linguagem de programação sem PhD em matemática.

Hopper era famosa por dizer: "A frase mais perigosa é 'Sempre fizemos assim'". Fazendo referência a esta citação, podemos afirmar que as mulheres estão quebrando padrões culturais antigos e enraizados em nossa sociedade. A empresa americana de consultoria Sheila Greco Associates fez um levantamento, no qual constatou que 36,9% das mulheres que ocupam cargos de liderança na área de Tecnologia da Informação (TI) se destacam nas tarefas em equipe, enquanto que, entre os homens no mesmo cargo, esse índice é de 19%.

A pesquisa aponta, também, que o número de mulheres que ocupam a posição de gerente em TI (CIO) ou vice-presidente, entre as maiores empresas do mundo, saltou de 12% em 2007 para 16,4% em 2015. No entanto, são os gerentes de TI do sexo masculino que mais ganham visibilidade por suas contribuições individuais, 81% contra 63,1% do sexo feminino.

No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 2015, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que um quinto dos profissionais de TI é mulher. Ainda de acordo com a PNAD, 79% das mulheres brasileiras, que entram nas faculdades da área, abandonam o curso no primeiro ano.

A falta de representatividade feminina pode ser considerada um fator decisivo para esse resultado, em um universo de preconcepção masculina. Poucas mulheres são bem-sucedidas como criadoras de uma empresa de tecnologia e inovação ou aparecem como protagonistas dessas, por exemplo. O projeto Água Viva, do Centro Feminista 8 de Março, no Rio Grande Norte, vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, em 2015, é um dos poucos casos de protagonismo feminino na TI, que podem servir de referência nesse quesito.

O projeto surgiu através de um trabalho coletivo de um grupo de mulheres do Assentamento Monte Alegre I, de Upanema (RN), com o Centro Feminista, juntamente com professores e estudantes da Universidade Rural do Semiárido (UFERSA). A tecnologia social reutiliza a água da lavagem de roupa, da casa e da louça no cultivo agrícola, a partir de um filtro capaz de eliminar bactérias prejudiciais e conservar alguns nutrientes como fósforo e cálcio, além de funcionar, também, como adubo para a terra.

Para aumentar a participação feminina na área, Laura Lafayette, diretora sênior de Recursos Humanos da Unisys para América Latina, que possui mais de 15 anos de experiência no setor, acredita que o primeiro passo seja o de desmistificar que este é um mercado apenas para homens. Como exemplo, Laura cita o trabalho de entidades como a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), que têm trabalhado em campanhas para promover a indústria de tecnologia não apenas para as mulheres, mas para os jovens de uma maneira geral.

Segundo a profissional, esta é uma profissão que permite ascensão rápida na carreira, e cuja a demanda por contratação de profissionais tem crescido, inclusive, com oportunidades para trabalhar em outros países. "É preciso que haja maior quantidade de mulheres ingressando no mercado de tecnologia, para que isso possa se refletir na ponta, na contratação e promoção de mais mulheres por parte das empresas do setor", acrescenta.

Ela lembra que, historicamente, as mulheres sofrem preconceito no ambiente de trabalho. Um fator que pode estar contribuindo bastante para esse quadro é a escolha de um perfil masculino para um cargo de alta responsabilidade, feita de modo "automático" e formada por estereótipos pré-moldados em nossa mente, como aponta a diretora.

"Por isso, a integração de homens e mulheres no ambiente de trabalho é essencial para eliminar o preconceito e harmonizar o clima organizacional. Isso é algo que temos feito na Unisys. O primeiro 'mandamento' é, obviamente, determinar a escolha do candidato por suas competências técnicas, comportamentais e sua capacidade de cumprir os objetivos destinados à posição e promover a equidade de direitos e responsabilidades", completa.

FIGURAS DESCONHECIDAS
O filme "Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures)" mostra um pouco da realidade que se atenua no mercado de tecnologia, em relação à participação da mulher. No enredo, uma equipe de cientistas da NASA, formada por mulheres afro-americanas, lidera uma das maiores operações tecnológicas da história americana, calculando, precisamente, a trajetória da nave Apollo 11 à lua.

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, figuras desconhecidas para a maioria de nós, pelo menos, até agora. Enfrentando preconceitos e dificuldades por conta da sua cor e gênero, essas mulheres ajudaram a mudar o curso da história ainda na década de 1960, trabalhando no Centro de Pesquisa Langley da NASA, na Virginia, época em que ainda ocorria a segregação racial.

Foi graças aos cálculos que as três realizavam, à mão, que o astronauta John Glenn pôde ir e voltar em segurança do espaço. Elas foram uma das poucas mulheres que tiveram reconhecimento por suas contribuições, trabalhando para a organização e, mesmo assim, a biografia dessas três figuras permaneceu escondida até o lançamento desse filme.

Mônica Góes, diretora de negócios da empresa de tecnologia Gartner, com ampla experiência em gestão de territórios e ecossistemas de tecnologia em multinacionais de tecnologia da informação, concorda que ainda existe um pouco de preconceito na profissão com relação ao sexo feminino.

"Já enfrentei muitos, dos mais diversos tipos. Alguns até incabíveis nos tempos atuais. Principalmente no início da carreira mas, hoje, muito raramente. Atualmente, me sinto não somente reconhecida de igual para igual pelos profissionais homens que me cercam, como muito respeitada e acolhida por eles. É um prazer ver, hoje, os homens me procurando para buscar conselhos não apenas das suas vidas, mas conselhos profissionais", relata.

Para a diretora do Gartner, em pouco tempo, haverá muito mais mulheres fantásticas atuando ao lado, e não "atrás", de homens em TI. No entanto, ela concorda que alguns estereótipos ainda precisam se romper. "Vejo, por exemplo, a consciência sobre a necessidade do aumento da contratação de mulheres em empresas de TI. Porém, olhando a fundo, quantas são diretoras ou presidentes? Em suma: hoje, o cenário é muito melhor do que antes. Mas ainda temos uma longa jornada a caminhar", avalia.

CIO da Bahiagás, há 10 anos, Patrícia Cox garante que devido às mudanças que vêm ocorrendo naturalmente, hoje existe um número considerável de mulheres CIO´s, que se destacam pela visão abrangente, multidisciplinar e focada em pontos estratégicos. Segundo a especialista, o crescimento da participação feminina em cargos de liderança na Tecnologia da Informação não está restrito a parte mais humana dos processos como design e layouts, por exemplo, como acreditam alguns profissionais.

"Disciplinadas por natureza, além de organizadas, as mulheres compreendem bem seus subordinados, são boas ouvintes e sabem conduzir de forma firme e segura", prossegue, Patrícia. "A facilidade em liderar, proveniente da sua natureza da liderança em família, com uma intuição bastante aguçada para as tomadas de decisão, é fator decisivo na identificação das necessidades dos clientes e levantamento de requisitos, onde, para a área de TI, esta sensibilidade torna-se fator essencial para uma gestão bem-sucedida", garante a CIO da Bahiagás.

O EMPODERAMENTO FEMININO NO UNIVERSO DAS STARTUPS
Um estudo realizado pelo Fórum Empreendedoras desvendou o perfil da mulher que empreende no Brasil. Esse levantamento foi feito com uma amostragem de 1,3 mil mulheres em todo o território nacional, na qual 85% já empreendem e 15% pensam nessa hipótese. Do total, 79% possuem ensino superior completo e 33% das empreendedoras faturam mais de R$ 10 mil por mês, já 36% faturam até R$ 2.500/mês.

Outro dado importante desse estudo é com relação ao motivo pelo qual elas decidem empreender - 66% trabalham com o que gostam, enquanto 34% tem o objetivo de realizar um sonho. Outro destaque é com relação à flexibilidade de horário, 52% falaram sobre o assunto, já 40% querem uma renda melhor. O tempo que elas estão empreendendo também chamou atenção, 43% começaram seu negócio há menos de três anos e 39% possuem mais de seis anos.

Tatiana Pezoa, CEO da Trustvox, primeira e única startup certificadora de reviews no Brasil, com ampla experiência de marketing para startups, mídias sociais e crowdsourcing, acredita que para que as mulheres conquistem, de vez, a igualdade profissional, precisa focar a energia e o trabalho no que realmente importa, que nada mais é do que estar preparada para ser a melhor profissional e a melhor escolha para empresa.

É esta orientação que ela passa em suas mentorias e palestras, ao invés de focar seus esforços na disputa de gênero. "Se você é uma Programadora, corra atrás de certificações, participe ativamente e tenha um Github¹ perfeito. Se você é Designer, por que não trabalhar em uma startup, mesmo que o salário não seja um dos melhores, mas que você possa entender mais sobre o mercado e que dessa experiência nasça um portfólio matador? ", questiona a CEO.

Como empreendedora, Tatiana dedicou muito tempo conhecendo e estudando sobre o mercado de e-commerce, visando ter lucidez e tranquilidade para enfrentar as dificuldades que viriam até os dias de hoje. "Mesmo sentindo o peso e a cobrança por resultados rápidos, acredito que o fato de ter me dedicado a conhecer e a aprender a jornada de compra do meu cliente, e o que era sucesso para ele, quando usa meu produto, permitiu que eu mantivesse a equipe Trustvox unida, mesmo diante de cada obstáculo que tivemos, afirma a empreendedora.

MULHERES NO PODER!
A revista americana Forbes, conhecida por elaborar rankings de pessoas mais ricas e influentes do mundo, criou, em 2012, uma lista com as dez mulheres mais poderosas do mundo da tecnologia. Confira no quadro abaixo:
(01) SHERYL SANDBERG
Primeiro membro feminino a compor a diretoria do Facebook, após quatro anos como diretora de operações da empresa.

(02) GINNI ROMETTY
Primeira mulher a se tornar CEO na empresa de tecnologia IBM, após 30 anos trabalhando para a companhia.

(03) URSULA BURNS
A CEO começou como estagiária na Xerox, até se tornar a primeira mulher afro-americana a ocupar um alto cargo na empresa.

(04) MEG WHITMAN
A CEO da HP assumiu o cargo e um desafio no momento em que a empresa apresentava o pior índice Dow Jones.

(05) MARISSA MAYER
Trocou o cargo de vice-presidente de serviços geográficos e locais da Google para se tornar CEO no Yahoo.

(06) SUSAN WOJCICKI
Responsável por 96% da receita da Google com as ferramentas de publicidade. Foi ela quem alugou a garagem em 1998.

(07) SAFRA CATZ
Tornou-se presidente da Oracle em 2004 e foi CFO (Chief Financial Officer) da corporação entre 2005 e 2008.

(08) CHER WANG
Cofundadora e presidente da HTC, é considerada uma das mulheres mais influentes e bem-sucedidas no mundo da tecnologia.

(09) PADMASREE WARRIOR
É ex-diretora de Tecnologia e Estratégia da Cisco. Atualmente é CEO da NextEV, uma empresa de veículos elétricos.

(10) SUE GARDNER
Responsável por conseguir isenções de taxas e aumentar 10 vezes o número de doações à Wikipedia, como diretora-executiva.

FONTE: TECMUNDO

TECNOLOGIAS CRIADAS POR MULHERES

Método para recuperar detalhes de negativos fotográficos
Contratada pela NASA para encontrar uma forma de revelar fotos astronômicas e geológicas, para que os detalhes pudessem ser vistos com clareza, Barbara S. Askins criou um processo para recuperar detalhes de negativos subexpostos que, segundo a NASA, seriam imagens inúteis sem esta tecnologia. Seu invento foi aproveitado, também, na obtenção de melhorias em raios-X e na restauração de fotos antigas.

Calculadora gráfica
Considerada uma pioneira da engenharia elétrica e da computação, Edith Clarke inventou uma calculadora gráfica, para determinar as características elétricas de longas linhas de transmissão de eletricidade, de maneira simplificada, reduzindo o tempo empregado em cálculos complicados para resolver problemas de design e operação de sistemas de energia elétrica.

Peneiras moleculares para refino de petróleo
A química americana Edith Flanigen liderou uma equipe de inventores, em 1956, que descobriu dezenas de estruturas de peneiras moleculares e 200 composições, muitas delas comercializadas no refinamento de petróleo e nos processos petroquímicos para reduzir os custos de energia e o desperdício industrial. A tecnologia emergente de peneiras moleculares foi uma peça-chave na produção de gasolina em todo o mundo e uma das formas mais eficientes, limpas e seguras de refinar petróleo.

Sinalizadores marítimos
Martha Coston passou dez anos desenvolvendo um sistema de luzes pirotécnicas vermelhas, brancas e verdes com base em esboços deixados por seu marido antes de ele morrer. Depois de patenteá-la, vendeu para a Marinha americana. Ao aperfeiçoar a tecnologia, Coston salvou vidas permitindo que barcos se comunicassem entre si e com o pessoal em terra em meio à escuridão e a grandes distâncias, com os sinalizadores marítimos noturnos.

FONTE: BBC MUNDO

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