Startup pernambucana auxilia mulheres vítimas de violência doméstica

Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher". O ditado popular se tornou um dos principais expoentes do machismo e um dos maiores acobertadores da violência contra a mulher no Brasil, ao longo dos anos. De acordo com a pesquisa Mapa da Violência 2015, 50,3% dos casos de feminicídios no país, no ano de 2013, foram praticados por familiares. Desse percentual, 33,2% tendo como assassinos, o próprio parceiro ou ex-parceiro.

Na tentativa de prestar apoio às vítimas de violência doméstica, e fomentar a "sororidade" ou o acolhimento entre as mulheres, nove pernambucanas (Emily Blyza, Marina Tonholo, Carolina Cani, Marina Gargantini, Renata Albertim, Lhaís Rodrigues, Aline Silveira, Thaissa Lima e Thaísa Queiroz) se uniram para criar a rede colaborativa e o aplicativo "Mete a Colher".

A equipe conta com jornalistas, designers e psicólogas, com o intuito de criar não apenas um canal de denúncia, mas sim uma plataforma de apoio, em que mulheres podem compartilhar suas experiências e identificar se estão vivendo em um relacionamento abusivo. Com a descrição "somos uma rede que conecta mulheres que passaram por um relacionamento abusivo, mulheres que precisam sair deles e mulheres que querem ajudar", a página da startup no Facebook já contava com cerca de 3 mil curtidas, menos de uma semana após a sua criação.

A ideia foi apresentada por Emily Blyza, de 24 anos, e rapidamente contou com o apoio das amigas, durante o evento Startup Weekend (SW) Women, realizado em Recife. A iniciativa tem como objetivo desenvolver o empreendedorismo feminino e inserir as mulheres no mercado da tecnologia e programação - ainda ocupado majoritariamente pelos homens.

A analista de informações destaca a importância do Mete a Colher para que a violência não seja mais um problema resolvido entre "quatro paredes", para que as pessoas mais próximas - como vizinhos e familiares - possam denunciar casos de agressão e para que a própria vítima possa pedir ajuda. "Mulheres que já passaram por relacionamentos abusivos são muito solicitas e estão dispostas a ajudar quem está passando pela mesma situação, então primeiro precisamos que esta mulher sinta que não está sozinha para ter forças de fazer a denúncia. Além disso, ela precisa ter segurança que será amparada depois disso", ressalta Emily.

Um dos principais diferenciais do Mete a Colher é trazer, através de uma série de experiências compartilhadas, uma conscientização para que as mulheres também percebam que o abuso não é apenas físico. "Queremos também conscientizar as mulheres que passam por relacionamentos abusivos do ponto de vista psicológico, para que elas saiam dele antes que se encaminhe para a violência física".

UNINDO MULHERES CONTRA A VIOLÊNCIA
O Mapa da Violência revelou que o Brasil é o quinto país mais violento para mulheres de um total de 83 nações. Até outubro de 2015, dos relatos de violência registrados na Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, 85,85% foram relacionados a casos de agressões domésticas.

Na maioria dos casos (67,36%), os agressores foram homens com quem as vítimas têm ou já tiveram algum vínculo afetivo: maridos, namorados ou ex-companheiros. No resto da porcentagem, o agressor era um familiar, amigo, vizinho ou conhecido.

O intuito do Mete a Colher é fazer com que mais casos sejam denunciados e as mulheres consigam receber apoio de pessoas mais próximas. Para utilizar basta baixar o aplicativo e se cadastrar, de maneira anônima ou não. A ferramenta oferece as opções "Preciso de ajuda" e "Quero ajudar".

A partir daí o aplicativo utiliza a geolocalização para alertar sobre onde a vítima está a outros usuários mais próximos, que podem prestar socorro ou ligar para a polícia. Há ainda um grupo fechado para que as usuárias conversem de maneira privada sobre suas experiências e prestem auxílio umas as outras. "Temos uma rede de voluntárias que oferecem apoio jurídico, psicológico, abrigo temporário, e até mesmo ajuda na inserção dessas vítimas no mercado de trabalho. Nossa ideia é conectar as que sofrem com as que podem ajudar".

MULHERES EMPREENDEDORAS
O evento mundial Startup Weekend, criado nos Estados Unidos, é realizado em mais de 135 países, sempre com uma temática única por edição, onde os participantes têm apenas 54 horas para apresentar uma ideia e transformá-la em uma startup, com um plano de negócio já definido. O principal diferencial da edição Women é contar com 75% do público formado por mulheres.

O aplicativo Mete a Colher foi o terceiro colocado na premiação deste ano e está em fase de desenvolvimento. Sua versão beta já está disponível para celulares com o sistema Android, e contou com doações através de uma campanha de crowdfunding para as futuras melhorias.

Para Emily, a participação no SW foi extremamente importante para fazer o aplicativo sair do papel. "Os aprendizados foram inúmeros. Sobre fazer muito com pouco tempo e dinheiro, validar uma ideia, saber se o que você pensou é viável, ou não. Sem falar das mentorias, simplesmente incríveis, que recebemos. Aconselho toda pessoa a participar de uma Startup Weekend, você sai de lá transformado. É um fim de semana de aprendizado intenso", concluiu.



Leia a revista
Editorial, 26.ABRIL.2016 | Postado em Startup

Carregando...