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Economia digital cresce no Nordeste e é tendência irreversível

A partir da década de 90, com o boom da internet, um novo modelo econômico começou a dar passos largos. A economia digital caiu no gosto dos brasileiros e virou uma tendência irreversível. Só neste ano, conforme pesquisa realizada pela Panorama Mobile Time/ Opinion Box: M-commerce no Brasil, primeiro levantamento feito sobre o setor, indica que nos últimos seis meses, 41% dos internautas brasileiros donos de smartphones fizeram pelo menos uma compra de bem físico através de um app móvel. Nesta entrevista, o diretor de Inovação e Empreendedorismo do Porto Digital, Guilherme Calheiros aborda o tema e fala sobre as oportunidades, especialmente para as pequenas empresas, assim como a mudança na cultura do consumo a partir dos recursos digitais.

Quando surgiu o conceito de economia digital e como está hoje?

O conceito de economia digital surgiu entre os anos 80 e 90 pela convergência das plataformas tecnológicas. Foi a internet que consolidou esse tipo de economia, por meio dos softwares para serviços e produtos destinados à sociedade. Dez anos depois esse modelo se consolida já nos anos 2000, e hoje é uma realidade irreversível. A internet é um grande instrumento de informação e comunicação do mundo. Hoje, a sociedade não vive mais sem a rede, faz parte do cotidiano, desde o ônibus que que se pega até o pagamento que se faz pela internet ou caixa rápido, tudo isso passa pela economia digital, que é muito vasta, um universo de possibilidades.
 
Quais os impactos dessa economia na sociedade brasileira?

É uma revolução imensa! A gente ainda está vendo os efeitos e as mudanças que esses impactos causam. Essa nova geração que começa a entrar no mercado de trabalho já chega adaptada ao universo digital, diferentemente das pessoas que viram o mundo antes da internet, como eu, por exemplo. As crianças de hoje leem por meio de um IPad. Os impactos são comparados aos da revolução industrial, quando o esforço humano foi trocado pelo trabalho das máquinas. Impacta na mudança das nossas relações, seja cultural, seja de relacionamento. Quem não tem um celular, hoje, é considerado um estranho. Vivemos uma universalização do uso de celular. Muda a cultura, por exemplo: ligar para casa de alguém é quase um desrespeito nos dias de hoje. Mas ainda estamos nos adaptando a isso. Porém, tudo isso que digo é de forma includente, já que todas as classes sociais têm acessos à internet, ao celular, ao computador. Há pacotes de dados para todas as classes, é muito democrático.
 
Como está o mercado para empreender no meio digital? O mercado digital é um universo gigantesco. Mas vou dar o exemplo da música. Com a internet dá para fazer tudo em uma plataforma digital, desde a gravação até a venda do produto. No pequeno negócio facilita acesso ao mercado, pois têm as redes sociais para divulgar, blogs, enfim, muitas possibilidades. É uma estrutura muito boa para o empreendedor, por impulsionar seus negócios. Na parte de promoção, de fazer a informação chegar ao cliente, é preciso ter mais cuidado. Primeiro, deve entender o negócio e qual informação tem que chegar ao cliente para depois definir os canais. Isso evita de cansar e aborrecer o cliente. Mas em geral, hoje, nada é feito sem a rede, sem tecnologia, desde o sistema de gestão ao controle e fluxo de caixa, de estoque. Enfim, tudo passa pela internet e não dá mais para empreender sem ela.
 
E quais os desafios que a economia digital ainda enfrenta?

O excesso de informação é, sem dúvida, um desafio da economia digital. A capacidade do Google é outra coisa, já que existe um volume alto de dados, de informação. E o que fazer com tudo isso? Tem muito caminho pela frente, até se explorar bem o universo digital. Estamos ainda nos familiarizando com essas tecnologias e suas possibilidades. Há, ainda, a questão da velocidade, da banda larga, pois nossas estruturas estão defasadas. E o pior é que não consigo perceber uma melhora a médio prazo. Não vejo uma movimentação do governo para solucionar isso. Ainda temos uma rede muito defasada, infelizmente.

Quais países do mundo têm uma economia digital bem desenvolvida?

E no Brasil, que região se destaca? Hoje, principalmente os EUA. Têm também a China e Israel, que investem muito, além de Coréia do Sul, Inglaterra e Alemanha. As duas últimas, pelas plataformas industriais. Aqui é o Sul e Sudeste que se destacam, em especial a cidade de São Paulo. Mas o Nordeste começou a crescer. Aqui em Recife temos 258 empresas consolidadas na área de tecnologia da informação e economia criativa. Elas faturam mais R$ 1 bilhão e são mais 8 mil pessoas trabalhando. O Porto Digital, hoje, é o maior polo de tecnologia do país. Têm também em outras capitais e estruturas, mas não concentrado como o nosso polo aqui.

A economia digital é uma ameaça para geração de emprego no país?

Muito pelo contrário, gera mais negócios. Embora diminua a necessidade de mão-de-obra, a economia digital fez surgir várias áreas. Os games, por exemplo, surgiram com essa economia e geram mais possibilidades de trabalhos, mais espaços para as pessoas empreenderem. Deixam de surgir vagas de emprego em determinados negócios, mas surgem outros meios, em outras áreas de atuação. Hoje o mercado exige mais capacitação e qualificação. As novas gerações já crescem nesse novo conceito de mercado. Deixamos de ter a necessidade de mais força braçal para termos um universo de possibilidades pela criatividade, pelo empenho, atualização e capacitação profissional.
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