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O certo é preparar o filho para o mundo como ele é

Será que há um segredo para tornar o filho um empreendedor? E quando ele se torna um, será que não fica adulto precocemente? E como lidar com a agenda do garoto que agora vive lotada de compromissos e com a exposição da imagem dele. A essas e outras perguntas, o empresário alagoano e investidor-anjo, João Kepler, 46, responderá em seu livro 'Educando Filhos para Empreender', que será lançado em novembro. Mas a TI (NE) as antecipa nessa entrevista.
 
Há um segredo para educar os filhos para que eles se tornem empreendedores?
 
Não existe receita de bolo para isso, mas há algumas atitudes que podem motivá-los. São várias as dicas, mas, por exemplo, os pais devem montar um ambiente em casa propício à criatividade fazer a criança pensar sobre soluções para problemas na casa, na rua, na educação, no transporte, na cidade e na saúde fazer perguntas desde cedo sobre os assuntos que o incomodam estimular a liderança e o respeito às opiniões contrárias às suas. Outro conselho é sair de cena de vez em quando e deixar seu filho ser proativo.
 
É verdade que você não dá mesada para seus filhos?
 
Nunca dei. Na medida em que você faz isso, deixa aquele garantido todo mês e, com isso, eles ficam amarrados. Se eu quero criar um empreendedor, tenho que deixá-lo incomodado. Eu tenho três filhos e todos três empreendem. Maria, de 11, vende bolo e brigadeiro por encomenda. Davi, de 14, tem o List-it [site de compra de material escolar] e Theo, de 16, tem um site de venda de ingressos, o Maceió Pass. O computador, a TV e o celular de Davi foi ele que comprou. O ideal é também não deixar que eles saibam que a herança é suficiente para deixá-los totalmente tranquilos e acomodados. Nós fazemos viagens internacionais anuais e cada um tem que depositar a sua contribuição, por exemplo.
 
Não acha que é uma medida rigorosa?
 
Alguns amigos criticam, mas eu fico firme e está dando certo. Tem muito pai que quer mudar o mundo para o filho, quando o certo é preparar o filho para o mundo como ele é.
 
A ideia de criar o List-it partiu, realmente, de Davi?
 
Sim, a minha esposa tem uma espécie de papelaria. Várias mães passavam por lá e tinham dificuldade de encontrar todos os materiais da lista em apenas um local. A partir dessa dificuldade, ele teve a iniciativa de criar o List-it. O meu papel sempre foi o de mentor, de questionar, de fazer ele pensar.Davi não programou o site, contratou programadores. Ele costuma dizer que nem Steve Jobs sabia programar, por que ele tem que saber?! Mas também está aprendendo.
 
Como você define a geração Z e qual a diferença entre esta e a Y?
 
A geração anterior é muito conectada, mas superficial. Não se aprofundava muito nas coisas. São leitores de links e atualizadores do Facebook. A atual é mais antenada do que conectada. Busca informação sobre como fazer. Eu acredito muito nessa linha. Percebo que há sim, divisão. Convivo com empreendedores de várias faixas etárias, participo do movimento investimento-anjo. Os mais jovens querem brincar, querem tudo, mas querem saber o porquê e como fazer. A capacidade de expressão, de comunicação e de contextualização é muito maior que a dos meninos da Y. Eles vão a fundo. Recentemente, Davi tinha uma palestra e eu sempre acompanho o conteúdo
que ele vai apresentar, mas ele me surpreendeu ao complementar com algo
que não estava previsto. E ficou bacana. Perguntei de onde ele tirou a ideia e ele disse que tinha visto no TED [conferência disseminada pela internet].
 
Davi faz sucesso já na adolescência. Como lidar com essa situação?
 
No começo foi complicado porque todo mundo lá em casa é muito normal. Depois, entendemos que, para o momento do país, é muito importante ter alguém para servir de exemplo e ajudar a outros jovens. Ele recebe muita
mensagem de adolescentes que perguntam sobre como fazer, em redes sociais como o Facebook e responde tudo, orienta outras crianças e adolescentes.
 
Questionar e trocar constantemente de aparelhos tecnológicos são características marcantes das gerações Y e Z. Você percebe isso em Davi?
 
Ele sempre investe em celulares de novas gerações, além de ter preferência
por uma marca. Quanto ao questionamento, a facilidade de acesso a vários
conteúdos aliada ao empenho desses garotos possibilitam-nos contestar até
mesmo o ensino escolar. Dia desses, eu fiquei em saia justa porque estávamos
em uma palestra com professores da escola e perguntaram ao Davi se ele gosta da escola. Ele disse que a educação brasileira é uma merda , porque o aprendizado ainda é muito feito por decoreba. Ele costuma dizer que quer entender o que está por trás dos assuntos, a influência, e não apenas decorá-los para a prova.
 
De certa forma, todo esse sucesso não o torna adulto mais cedo?
 
Ele é uma criança normal. Gosta de brincar, jogar bola, ir ao shopping, namorar, faz os programas que as demais crianças fazem na idade dele. A diferença é que ele começou a ganhar dinheiro desde muito cedo, desde os dez anos.
 
Já houve ocasiões em que você precisou do seu filho para ensinar alguma função em um aparelho?

Algumas vezes. Não me lembro de alguma situação em especial comigo. Mas, na semana passada [penúltima semana de agosto], o avô dele ligou às 22h para pedir que Davi desbloqueasse seu computador, porque ele havia
perdido a senha e Davi foi. Quem nasceu nas últimas décadas tem muito mais facilidade de lidar com aparelhos tecnológicos, principalmente os mais atuais.
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