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Salvador rumo ao futuro



Em 2 de janeiro de 2020, primeiro dia útil da nova década, o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), assina o plano diretor de tecnologia para uma cidade inteligente. O ato, oficial e também simbólico, aponta o entendimento do poder público para a importância da transformação digital em todos os aspectos da vida do brasileiro. Paralelo aos esforços do governo, é possível notar uma série de iniciativas privadas que vêm fazendo de Salvador uma referência rumo ao futuro. Novo Centro de Convenções, Hub Salvador, projeto Smart City, a presença de veículos elétricos...

“Em alguns momentos a gente insiste que a tecnologia sozinha, em si só, não serve para nada. Não ajuda em nada, até porque ela muda. Hoje o que é o melhor, amanhã é completamente obsoleto. Então a gente, na verdade, busca perceber e aplicar como é que essa tecnologia melhora a qualidade de vida do cidadão”, explica Claudio Maltez, diretor técnico da COGEL, a Companhia de Governança Eletrônica da Prefeitura de Salvador, uma das pastas envolvidas na transformação  da primeira capital do Brasil. O plano diretor de tecnologia faz parte do projeto Salvador 360, que engloba 8 diferentes eixos para reposicionamento da cidade. Entre os esforços, no quinto eixo, pode-se observar as movimentações para uma cidade inteligente. O ambiente privado também se movimenta para garantir que Salvador seja uma grande vitrine.
 

Todas as entrevistas, bem como o texto deste conteúdo foram elaborados antes da pandemia causada pelo novo coronavírus atingir o Brasil. Algumas datas relativas à eventos e entrega de documentos podem sofrer alterações.


 
AEROPORTO E NOVO CENTRO DE CONVENÇÕES

O aeroporto de Salvador (Salvador Bahia Airport) é uma das portas de entrada para os investimentos. Afinal, é por ele que passam os empresários que para cá vêm em seus diversos compromissos. A concessão, com prazo de trinta anos, está em nome da gigante Vinci Airports, detentora de mais de 20 aeroportos ao redor do mundo. Entre eles, o de Lisboa, em Portugal; Osaka, no Japão; e Orlando, nos Estados Unidos. Hoje, de acordo com a Vinci, a meta é desenvolver o potencial de tráfego.

Yann Le Bihan, diretor técnico do Salvador Bahia Airport, cita algumas das mudanças. “A automatização passou a fazer parte do dia a dia do Aeroporto com o novo sistema BMS (Building Management System), responsável pelo controle e monitoramento de iluminação, ar-condicionado, elevadores, escadas rolantes, esteiras de bagagens etc. Esta tecnologia faz a identificação automática de qualquer ocorrência, como interrupção no funcionamento dos elevadores, e com isso otimiza o tempo entre a identificação do problema e a resolução. Para trazer mais segurança, tomógrafos acoplados às esteiras realizam inspeção total das bagagens domésticas e internacionais no Salvador Bahia Airport, uma novidade que supera as exigências da própria legislação brasileira.  No país, somente bagagens internacionais são 100% inspecionadas (e de maneira manual)”.

Saindo do aeroporto, um dos principais destinos é o novo Centro de Convenções. O projeto custou mais de R$ 100 milhões, e fica alocado no espaço do antigo Aeroclube, na orla da Boca do Rio. Comparado ao antigo Centro, o tamanho é colossal. São mais de 103 mil metros quadrados, sendo 36 mil de área construída – o total vale a mais de 14 campos de futebol. A administradora GL Eventos já confirmou mais de 20 eventos confirmados até 2022, incluindo a Bienal do Livro de Salvador. 

“A simples contagem do número de pessoas circulando no terminal de passageiros nos permite responder com rapidez ou até mesmo antecipar as demandas em pontos tão críticos como controle de segurança ou frequência de limpeza de banheiros”.
 


AS STARTUPS E O HUB SALVADOR

Além de infraestruturas prontas e receptivas aos empresários e atores da movimentação financeira e networking, também é importante que haja políticas de fomento à novos negócios, principalmente a partir de startups. O Hub Salvador é a principal iniciativa nesse sentido. Consiste em um espaço de trabalho que dá infraestrutura e apoio para que startups baianas possam desenvolver seus negócios. “Se viu importante ter um local catalisador desse ecossistema. Onde se conseguisse ter um laboratório vivo de projetos em inovação e tecnologia”, explica Alberto Braga, ex-diretor presidente da COGEL.

Partindo desse princípio, as pastas COGEL (Companhia de Governança Eletrônica), SEDUR (Secretaria de Desenvolvimento Urbano) e SEMGE (Secretaria Municipal de Gestão) desenvolveram uma licitação para operar o espaço do Hub Salvador, que fica no bairro do Comércio. Para medir o sucesso da iniciativa, um dos parâmetros é o da rotatividade das 300 posições do Hub, que atualmente estão todas ocupadas. Um segundo parâmetro é volume de recursos. No gráfico a seguir, é possível observar parte dessa evolução. “Fizemos esse ambiente, demos uma cara, um local, para que as pessoas se enxergassem lá, com um viés de desenvolvimento econômico. De reter os talentos baianos aqui. Porque muitos deles tinham essa criatividade toda e saíam daqui. Então a ideia é ter um segundo vetor, além do turismo, fora dessa parte do verão, fazendo a economia de Salvador se movimentar”, destaca o diretor técnico da COGEL, Claudio Maltez.

PROJETO SMART CITY – BAIRRO INTELIGENTE

Dentro dos esforços para transformar Salvador em uma cidade inteligente, existe uma série de investimentos no bairro do comércio. Um dos objetivos da prefeitura é iniciar os trabalhos nessa região, que deve funcionar como um Centro Administrativo, semelhante ao CAB, Centro Administrativo da Bahia, que é referente aos órgãos estaduais.

“A gente quer entender os problemas da cidade e quer dar oportunidades para que as startups baianas resolvam isso. Então começa, por exemplo, com o que a gente está implementando no Comércio. Se eu já medi que está caindo chuva, vou acionar uma sirene. Já medi que aumentou o fluxo de carros, vou ajustar o tempo do semáforo... O que você imaginar de sensoriamento e internet das coisas está aqui sendo processado por uma nuvem e criando inteligência por Big Data. Criando esse tipo de ecossistema, você está em um plano fértil para as startups estarem propondo novas coisas. Começa nos postes, você passa pros prédios, e vai pro bairro. Depois, ao ver como se comporta, a gente replica na cidade”, ressalta Claudio Maltez. Um dos prédios que se encaixa dentro da ideia é o da SECIS, Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência. A construção, na Rua da Grécia, chama atenção pela aparência.

O “prédio verde” possui a fachada coberta por plantas. Isso reduz a demanda por refrigeração, já que comprovadamente a presença de vegetais dificulta o aumento de temperatura em até 5 ºC. Além disso, o espaço produz energia solar por meio de 34 painéis, o que evita a emissão de mais de 400 kg de CO2 por ano. No total, a SECIS reúne 20 iniciativas sustentáveis diferentes. Há coleta e gestão de resíduos, uma horta para os funcionários, um micro criadouro de abelhas nativas Jatahy, entre outras particularidades.

O FUTURO COM FORÇA DE LEI

2020 é ano eleitoral. Estados e municípios votam para seus cargos de prefeitos e vereadores. Como, então, garantir que as iniciativas em Salvador perdurem mesmo em períodos de mudança política? Uma das alternativas em pauta é transformar o projeto em lei. Inicialmente, a prefeitura contratou uma consultoria, que já foi iniciada. Os achados da atividade serão então úteis para os próximos passos.

“A gente entende que o primeiro passo é saber exatamente o que a gente tem [de problemas], de dentro, da Prefeitura [com relação à tecnologia e smart city]. Depois, chamando todos os atores da sociedade civil organizada: Academia, Senai Cimatec, e outros atores para formarmos o diagnóstico e o plano diretor. Isso não existe em nenhuma outra capital no país. Há uma expectativa para que se aprove um projeto na Câmara de vereadores para que seja um plano de cida de. Para que não seja um plano de governo. Independente do partido do próximo man dato, que seja um projeto com força de lei”, reforça Alberto Braga, ex-diretor presidente da COGEL.

“A gente tem noção de que o melhor carnaval do mundo é em Salvador e não é pelas características da cidade. É pelas pessoas  que estão aqui. Então sabemos que o que temos em Salvador, que é a matéria humana; é criativa, é de qualidade, e tem capacidade de criar estratégias com potencial de serem aplicadas mundo afora”, completa Claudio Maltez.

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