Robótica e Inteligência Artificial desafiam empregos e previdência



Para quem tem mais de 50 anos, a palavra robô remete, imediatamente, ao autômato da série “Perdidos no Espaço”. A ficção, contudo, ficou para trás com os avanços da robótica, e surgiram dilemas, como calcular o impacto da robotização na Previdência Social.

Se estima que até 20 milhões de trabalhadores da indústria sejam substituídos por estes dispositivos até 2030. Será um baque muito grande para sistemas de aposentadoria que já enfrentam dificuldades pela combinação de redução da natalidade com o aumento da longevidade. Em função disso, a idade mínima para aposentadoria tem subido em diversos países, inclusive nos mais ricos.

O Brasil também está votando sua reforma previdenciária. Pode ocorrer, portanto, que o uso de robôs seja tributado para compensar a perda de contribuições previdenciárias. É o que defende, por exemplo, o bilionário Bill Gates, da Microsoft. Ainda que a reforma brasileira seja aprovada este ano, já se cogita um ajuste em 10 a 20 anos. Talvez seja a oportunidade para discutir esta questão, se houver também por aqui crescimento expressivo da robotização na indústria, nos serviços e no agronegócio. Tal cenário parece óbvio, quando se sucedem, por exemplo, experiências com veículos autônomos. Sem contar que o uso doméstico da robótica é um do mais promissores, inclusive como acompanhantes e cuidadores de idosos.

Até agora, o “imposto do robô” ainda não foi criado. Por enquanto, somente a Coreia do Sul tomou providência concreta neste sentido, ao limitar a dedução de impostos de companhias automatizadas. Pela experiência que tenho em tecnologia, inovação e gestão, não acredito que seja viável tributar diretamente o uso da robótica e da inteligência artificial. Talvez fosse mais adequado aumentar impostos em determinadas faixas de lucratividade, em companhias com alto nível de automação.

Em algum momento nos próximos anos, teremos, além disso, de discutir mais seriamente as transformações no mercado de trabalho provocadas por algoritmos, robôs, softwares, impressão 3D, drones, nanodispositivos, implantes de chips e apps disruptivos. Algum tipo de renda universal terá de ser criado para a maioria da população que não terá lugar nas empresas. Ou voltaremos a viver como em sociedades pré-industriais, nas quais predominavam os ofícios, e em que as famílias tinham de cultivar a terra e produzir bens essenciais, como roupas e móveis.



*André Navarrete é Presidente da Optimize Group  e co-fundador do GETIC NE (Grupo de Executivos de Tecnologia, Inovação e Comunicação do NE). Leia a revista
André Navarrete, 27.SETEMBRO.2019 | Postado em Artigo

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