Editorial da Edição 58 - Liberdade Ameaçada

No momento em que escrevo esse editorial (22/04/2020) estou em casa, da mesma forma que milhões de pessoas no mundo, em função da pandemia de Covid-19 causada pelo novo corona vírus. Neste instante, dezenas de dúvidas passam pela minha cabeça. Como pequeno empresário, tenho que manter a calma e a serenidade para tomar as decisões corretas, que vão influenciar a vida dos que me cercam. Como pai de família e filho, tenho que me preocupar em manter todos unidos, sãos e seguros. Como cidadão, que tem uma voz ativa na sociedade, tenho que analisar as informações e me posicionar perante os fatos. Por isso, este texto vai ser dedicado a isso. Não em função da polêmica da quarentena ou de terminar a quarentena. Não em função da eficácia do tratamento com a cloroquina ou das recomendações da OMS. Não em função da politização do problema (difícil, né?). Espero que você tenha informações suficientes para formar a sua opinião sobre cada um desses dilemas. O fato é que, assim que isso passar (e espero que passe logo), o mundo terá que continuar a caminhar, só que agora com as sequelas dessa crise. E uma das coisas que mais me chama a atenção no momento é a tentativa de supressão da liberdade de expressão, principalmente em função da imposição de cerceamento do compartilhamento de pensamentos divergentes. E não estou aqui julgando qual lado está certo ou errado, mas simplesmente constatando que a nossa forma de comunicação, que já vinha sendo cerceada brandamente, passou a um nível preocupante. Basta ver a medida tomada pelo WhatsApp reduzindo o compartilhamento de informação. E não para por aí. Várias contas no Twitter sendo literalmente censuradas. Idem no YouTube. Sempre sob o manto de manutenção das políticas de uso, de proteção da vida e de não propagar “fake news”. “Toda unanimidade é burra” ou “Nem toda unanimidade é burra”. Qual a sentença correta? Não sei. Ninguém sabe (ou todos sabem?). O exercício da democracia nos permite discutir abertamente até que se chegue – ou não – a uma unanimidade. O certo é que impedir a discussão, suprimindo pontos de vistas diferentes da maioria está longe de ser a solução para uma sociedade mais justa, o que aliás todos dizem almejar (parece que achei uma unanimidade). A grande mídia por exemplo, muitas vezes se refere às mídias sociais como se fossem um ser vivo, e não apenas uma via, um canal a mais de comunicação entre as pessoas. Crimes na internet ou em qualquer outro lugar sempre vão existir e devem ser punidos de acordo com a Lei. Mas não podemos proibir o mundo de usar facas porque existiu um “Açougueiro de Rostov”*. A analogia pode ser forte, é propositadamente imperfeita e não será unânime, mas a internet e tudo que está dentro dela, incluindo aí as mídias sociais e a própria TI Nordeste, é a maior expressão da democracia no mundo. Que isso não mude após essa pandemia.

José Augusto Barretto
Presidente do Grupo TI Nordeste

* Referência ao serial killer Andrei Chikatilo, russo, professor erudito, membro do partido comunista, cujo pai foi militar e que curiosamente, apesar do codinome, não utilizava uma faca para dilacerar as suas vítimas, mas sim a própria boca
Augusto Barretto, 27.ABRIL.2020 | Postado em Artigos

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