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Computação cognitiva e o seu alcance na sociedade

Na 44ª edição da revista TI (NE), apresentamos o conceito de Inteligência Artificial (IA) e alguns projetos que despontam no Brasil. Nesta segunda parte, resolvemos estender um pouco mais o assunto e apresentar outros exemplos de onde e como a inteligência artificial está agindo e interferindo em nossa sociedade, para entendermos melhor a dimensão dessa nova revolução tecnológica. Em outras palavras, a computação cognitiva é conhecida com a 3ª Era da Computação - a 1ª foi tabulação simples e a 2ª veio com a programação de software.

Quando o assunto é IA, a empresa de informática International Business Machines (IBM) está à frente de muitas outras companhias do ramo. Com o robô de inteligência artificial, batizado de Watson, em homenagem ao fundador da empresa, Thomas Watson (1874-1956), a IBM se torna líder do segmento. Sem concorrência à altura, a plataforma possui três características principais:

1ª entende linguagem natural, você pode conversar com ela
2ª ela pensa, formula hipóteses e lhe dá uma resposta
3ª ela aprende, melhorando a medida em que obtém novas informações

Watson apareceu na mídia pela primeira vez em 2011, no programa de auditório da TV americana Jeopardy, sendo apresentado ao mundo. O robô disputou a competição de perguntas e respostas com os dois maiores vencedores de todas as temporadas e ganhou. Os candidatos questionaram que ele conseguia "apertar" o botão mais rápido. Apesar de a polêmica sobre o botão eletrônico, não havia nenhuma interferência humana e o tempo para acionar o botão era calculado na média de tempo de resposta de um humano.

Veja como foi a participação de Watson no programa Jeopardy

APLICABILIDADE
A Inteligência Artificial, como nós a conhecemos hoje, tem aplicações em diversas áreas. Uma das principais, e que já começou muito forte, é na área de saúde, com o robô Watson da IBM, que tem o objetivo de ajudar o médico a descobrir qual é o melhor tratamento para uma pessoa que tem câncer, dadas as suas características e exames. Como existe uma quantidade muito grande de informações sobre saúde, diagnósticos, etc., o foco da empresa, por enquanto, é apenas na parte de oncologia.

Ao alimentar o robô com as características da doença e os resultados dos exames, Watson vai na própria base de dados, busca em todos os papers que existem no mundo sobre câncer com as mesmas características e sugere para o médico um tratamento mais eficaz, porém, a decisão final é sempre a do profissional.

Considerado pela IBM como o maior investimento em inteligência artificial, a ideia não é substituir o homem pela máquina, mas aumentar a inteligência humana, que eles chamam de "inteligência aumentada". "Há milhares de publicações que saem todos os dias sobre o câncer, tratamentos, coisas novas etc. e, para o ser humano, é impossível absorver tudo isso todos os dias. A máquina faz isso automaticamente. Essa é uma das grandes aplicações que fazemos na parte de computação cognitiva", afirma o diretor de operações da IBM, Roberto Ramalho.

Segundo o diretor, as aplicações do Watson são diversas. No Brasil, existem algumas empresas que já adotaram a plataforma e suas soluções, o que promete transformar algumas profissões. "É uma aplicabilidade enorme, porque o potencial também é enorme", sugere Ramalho, que ainda conta um caso pessoal, que aconteceu com a sua filha. De acordo com ele, a garota sentia a perna doendo e, após dois meses de investigação, nenhum profissional foi capaz de descobrir o motivo.

Ao analisar as radiografias, Watson identificou de imediato a osteocondrite, uma inflamação que ocorre na cartilagem. "Ele dá o diagnóstico como um médico, só que sem emoção ou interferência externa e com mais precisão. Watson está mais para ajudar, do que ameaça", afirma o diretor da IBM.

Ainda sobre a atuação do Watson, suas Interfaces de Programação de Aplicativos (APIs, em inglês) permitem que ele atue nas mais diversas áreas possíveis: jurídica, saúde, agribusiness, e até coisas triviais como um site para ajudar noivos a organizar festas de casamento e tudo na nuvem, viabilizando o uso.

O Bluemix, por exemplo, é uma implementação da Arquitetura de Nuvem Aberta da IBM baseada em Cloud Foundry, uma plataforma como serviço (PaaS) de código aberto, que permite que as organizações e os desenvolvedores criem, implementem e gerenciem aplicativos na nuvem de maneira fácil e rápida.

Para ter noção, a IA está tão presente em nosso dia a dia, que muitos aplicativos já utilizam os serviços do Watson. Mas a inteligência artificial que temos hoje não é a mesma do filme "A.I. - Inteligência Artificial", de 2001. Segundo Roberto Ramalho, tudo depende do foco. "Se, de fato, o foco fosse substituir o ser humano, para que a máquina tomasse decisões, poderíamos fazer esse paralelo forte. Mas o foco da IBM não é esse e, sim, ajudar o ser humano a tomar as melhores decisões", enfatiza.

Roberto conta que, até o momento, Watson foi capaz de encontrar, em 30% dos casos, um tratamento que os médicos não tinham percebido antes. Em uma das situações, ocorrida no Japão, o robô detectou um tipo raro de leucemia, que os médicos não tinham conseguido identificar e recomendou um outro tratamento.

Mas, no caso do câncer, Roberto lembra que é o médico o responsável por indicar se os 30% que o Watson apontou é o melhor tratamento ou não e o porquê. "Essa uma questão muito importante para o futuro, porque outras empresas vão aparecer com inteligência artificial, não tenha dúvida. É uma tendência irreversível no mercado".

IMPACTO
A Inteligência Artificial já é uma realidade no dia a dia do usuário e está transformando os negócios em diversas áreas, seja se comunicando com a Siri, procurando um endereço no Waze ou utilizando o serviço de um órgão governamental e consultando sua fatura em operadoras de telecomunicação ou tv a cabo. Assim, os assistentes virtuais estão ganhando cada vez mais espaço.

O mercado de IA tem um potencial enorme de crescimento. De acordo com o relatório da CBInsights, desde 2012, mais de 200 startups de IA foram adquiridas 30 somente no primeiro trimestre deste ano e o potencial de crescimento até 2025 é de US$ 37 milhões, segundo a Tractica.

De acordo o country manager da Aivo, Bruno Dalla Fina, plataformas ou softwares desenvolvidos com Inteligência Artificial impactam de forma sutil o cotidiano das pessoas, na maior parte das vezes. "Considero que ainda temos um caminho a percorrer para que a inteligência artificial esteja mais evoluída e quase onipresente, mas entendo que isso um dia vai acontecer".

Ele vê a interferência dessas máquinas com bons olhos. "Estes cenários apocalípticos que vemos em alguns filmes são para Hollywood vender ingresso. A aplicação de IA será muito mais direta e funcional, ela será aplicada para deixar nossas vidas mais ágeis e fáceis", conclui o profissional.

Em seu artigo "A humanização dos robôs ou a robotização dos humanos?", Bruno Dalla Fina aponta que os benefícios da utilização de inovações tecnológicas estão redefinindo o papel do humano. "A robotização de algumas atividades do trabalho permite otimizar a gestão humana e a produtividade, justamente o contrário de alguns temores existentes, onde seríamos substituídos pelos avanços tecnológicos, e aí está o verdadeiro desafio para chegarmos a uma perfeita simbiose humano-robô".

MERCADO
Uma pesquisa realizada pela Sage, empresa de sistemas de gestão empresarial e contabilidade, mostra que 64% dos empresários brasileiros enxergam a inteligência artificial como a principal tendência tecnológica. Os brasileiros estão à frente dos demais empresários no mundo (58%). Para eles, a IA pode ajudar a reduzir erros e encurtar prazos, além de facilitar na tomada de decisões a partir de um volume de dados que um profissional humano dificilmente conseguiria abarcar.

"Os empresários brasileiros enxergam na inteligência artificial a oportunidade para mudar positivamente a forma como inúmeras tarefas são feitas, otimizando tempo e proporcionando eficiência", avalia Jorge Santos Carneiro, presidente da Sage Brasil e América Latina. Ainda de acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros (66%) enxerga os benefícios do uso da inteligência artificial e dos bots na organização da vida profissional e dos negócios. No mundo, essa média cai para 47%, demonstrando maior receio por parte dos empresários quando o assunto é a inclusão das novas tecnologias na rotina de trabalho.

CASOS DE WATSON NO BRASIL

INICIATIVAS BRASILEIRAS (BANCOS)
Bradesco: Em julho de 2015, a IBM iniciou com o Bradesco a primeira iniciativa da IBM para uso da inteligência artificial no Brasil. O projeto utiliza o Watson em um call center interno. O banco alimentou o Watson com seus dados e o chat responde às perguntas dos próprios funcionários, sobre suas rotinas de trabalho.

Banco do Brasil: Em junho de 2016, durante o Ciab FEBRABAN, o Banco do Brasil anunciou a criação de um Centro de Competência em Computação Cognitiva e desenvolvimento de um Assistente Inteligente, para seu aplicativo de Internet Banking, para que os clientes do Private e Estilo Digital possam consultar no app - por voz ou texto - um assistente que ajuda a realizar transações financeiras e fornece informações gerais.

INICIATIVAS BRASILEIRAS (SAÚDE)
Fleury Medicina e Saúde: Em outubro de 2016, o laboratório Fleury e a IBM anunciaram que trabalharão juntas para testar e validar o Watson for Genomics no Brasil, como uma potencial ferramenta provedora de informações para auxiliar a tomada de decisão médica. A parceria busca avanços que permitam aumentar a precisão na medicina personalizada.

TheraSkin: O Watson for Drug Discovery é uma solução IBM hospedada na nuvem, que utiliza a computação cognitiva para disponibilizar visualizações dinâmicas e classificações de pesquisas da área clínica. A tecnologia de inteligência artificial auxilia cientistas a identificarem relações entre genes, proteínas e medicamentos relacionados às doenças em estudo, agilizando o processo de novas descobertas científicas.

INICIATIVAS BRASILEIRAS (ECOSSISTEMA)
Startup Mecasei.com: Em abril de 2016, a IBM anunciou o primeiro caso de uso do Watson no Brasil com uma startup, a Mecasei.com, que lançou a primeira assistente pessoal de casamentos do mundo, chamada Meeka. O aplicativo foi desenvolvido a partir de três serviços do Watson (Dialog, Natural Language Classifier e Retrive and Rank) e ajuda os noivos a planejarem todos os detalhes do casamento.

Doutor Cuco: O aplicativo Dr. Cuco utiliza serviços do Watson, para que ele haja como um ajudante em tempo integral, acompanhando os usuários 24 horas por dia. Entre seus recursos estão lembretes de horário para medicamentos, material educativo e de apoio relacionado à doença sendo tratada e, até mesmo, notificações a familiares e amigos quando o medicamento é esquecido. Esta aplicação usa as API39s Watson Conversation e Retrieve and Rank e a startup pertence ao programa GEP da IBM.

OUTRAS INICIATIVAS
Sky Icaro Tech: Desde agosto de 2016, o Watson coordena as operações de telecomunicações da banda larga da Sky.

Algar Telecom Icaro Tech: A empresa de telecomunicações utiliza o Watson em seu canal digital, para personalizar o atendimento ao cliente.

MXM Insights: Criou uma solução chamada MXM Insights que utiliza a tecnologia de computação cognitiva IBM Watson, para trazer mais inteligência para diversos setores interno.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Conheça os cinco robôs inspirados nos movimentos da natureza

A Festo, multinacional alemã de automação industrial, desde 2006 mantém um setor de inovação especializado no desenvolvimento de robôs inspirados em animais: o Bionic Learning Network - rede de aprendizado biônico - área que reúne biólogos, engenheiros e estudantes e já criou diversos animais robóticos.

O desenvolvimento dos Bionics é regido pelos mais modernos conceitos de produção, como Indústria 4.0, e pela mais moderna tecnologia em inteligência artificial. Conheça os cinco robôs que imitam os animais da natureza:

BionicANTs
Os engenheiros da Festo estudaram a delicada anatomia das formigas, para criar algoritmos complexos que traduzem o comportamento cooperativo das formigas para a tecnologia. Os BionicANTs demonstram como as unidades individuais podem reagir em diversas situações, coordenar-se ente si e atuar como um sistema em rede global.

As formigas trabalham juntas, se comunicam e coordenam suas ações e movimentos. Cada uma delas toma decisões automaticamente e desempenha seu papel na resolução de uma tarefa. Esse comportamento cooperativo oferece abordagens interessantes para a chamada "fábrica do futuro".

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eMotionButterflies
A empresa uniu a construção ultraleve de insetos artificiais com voo coordenado em coletivo. As borboletas têm uma rota pré-programada que especifica os percursos de voo. Caso alguma delas saia do trajeto já estabelecido, o sistema de câmeras mede a posição real de todos os objetos voadores 160 vezes por segundo e corrige o erro, fazendo com que a manobra da borboleta mude e todas voem em harmonia.

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AquaPenguins
O pinguim possui um contorno hidrodinâmico. Sua elegante propulsão de asa, a cabeça e a cauda podem ser movidas em todas as direções, o que permite que o pinguim robótico faça manobras em condições espaciais apertadas e até nadar para trás, ao contrário de seus equivalentes biológicos. Os pinguins biônicos são concebidos como veículos subaquáticos autônomos, que se orientam de forma independente e navegam através da bacia hidrográfica. Eles têm um sistema de sonar 3D, igual aos golfinhos, que permite a comunicação com o ambiente e com outros pinguins robóticos para evitar colisões.

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BionicKangaroo
Ele conta com tecnologia de acionamento pneumático e elétrico com uma estrutura leve, segredo para a agilidade e estabilidade da máquina. A cinemática de salto estável, mais a tecnologia de controle preciso, garante estabilidade ao pular e pousar. Como um animal real, BionicKangaroo recupera energia ao saltar, armazenando-a para saltos subsequentes.

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AqueJelly
A água viva desliza de maneira elegante e, aparentemente, sem esforço através da água. Isso é sustentado por tentáculos adaptativos, que são controlados por uma movimentação elétrica em seu corpo. A tecnologia integrada de comunicação e o sensor tecnológico em conjunto com os diagnósticos em tempo real permitem o comportamento coordenado e coletivo de várias águas-vivas, mesmo em um espaço ilimitado.

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