Pequenos Provedores

Baianos preferem internet rápida e estável, como a fibra óptica, por exemplo, é o que diz a Cianet. Segundo a empresa, que é responsável pelo desenvolvimento de tecnologia para o mercado de operadores de TV e internet, desde 2011 os consumidores da Bahia têm buscado mais velocidade e estabilidade nas conexões à internet. A companhia afirma que apesar de a tecnologia xDSL (Digital Subscriber Line) estar presente em grande parte dos domicílios, o seu percentual vem diminuindo há seis anos consecutivos em relação às outras, o que representa uma redução de 12 pontos percentuais em um mercado que já correspondeu a 85% das casas, mas que agora abastece apenas 73% dos imóveis.

De acordo com a Cianet, a migração é positiva para os pequenos provedores de internet (ISPs), que são o terceiro maior grupo de fornecimento de acesso no estado nordestino, com 11% do mercado. O especialista em redes FTTx e instrutor de treinamentos na Cianet, Gabriel Ferraudo, explica que a migração do xDSL para outras tecnologias mais avançadas, como a fibra óptica, seria positiva não só para os pequenos provedores, mas, também, para o desenvolvimento do país como um todo. "Esta tecnologia proporciona mais qualidade e velocidade nas conexões, além de permitir adicionar mais serviços à rede do provedor", afirma o especialista. Segundo Gabriel, os pequenos e médios provedores estão atentos a essa tendência e já levam internet de qualidade para cidades distantes dos grandes centros do país, agregando um diferencial perante às grandes operadoras. Atualmente, os ISPs são responsáveis por cerca de 86 mil do total de 812 mil acessos.

Além da necessidade de melhores conexões, a Cianet diz que a região baiana tem potencial para a implantação de novos provedores. De acordo com a empresa, há seis anos, 12 em cada 100 domicílios tinham acesso à banda larga. Com o crescimento constante, neste ano já supera os 18 em cada 100, abrindo a possibilidade de instalação de novos ISPs. "O xDSL é uma tecnologia utilizada, em sua maioria, por grandes operadoras. Assim, a redução percentual de conexão xDSL tem a ver com o surgimento de novos provedores de internet de pequeno e médio porte. Consequentemente, a diminuição percentual das conexões via xDSL daria espaço para o crescimento da fibra óptica, tecnologia já utilizada pelos ISPs (mesmo que ainda em pequena escala)", explica Gabriel.

CRESCIMENTO
Dados da Anatel mostram que as regiões mais afastadas - inclusive as do Nordeste - são, em 80% dos casos, mercados ideais para os provedores regionais. Para o instrutor de treinamento da Cianet, apesar desta tecnologia representar, hoje, apenas 2% das conexões da Bahia, que ainda são dominadas pelas conexões via rádio, realizadas por ISPs, ainda há um grande potencial de mercado a ser explorado, já que a fibra é tendência de mercado.

Ainda em setembro, a Anatel já havia publicado uma informação dizendo que os provedores regionais cresceram 19,19% no último ano, sendo os maiores responsáveis pelo crescimento da banda larga no Brasil. Isso representa 50% a mais que o da líder (Grupo Net, Claro e Embratel), com 40.943 registros, e três vezes mais que o da vice-líder (Telefônica e GVT), com 21.679 novos acessos, contra 67.198 dos pequenos provedores.

Para o diretor executivo da Hup Telecom, Alfredo Vieira de Castro Filho, a procura está aumentando porque os clientes procuram melhor atendimento, melhor qualidade e preços mais competitivos, além da possibilidade de contratar somente o acesso à internet, sem a necessidade de um telefone fixo, ou TV por assinatura. "O número de pessoas com smartphones e tablets aumenta constantemente. Não é mais necessário ter um computador para acessar a internet e se comunicar. Serviços OTT¹ como WhatsApp, Netflix e redes de videogames como PSN e Xbox Live contribuem para o aumento da demanda por acessos e maiores velocidades", completa.

Recentemente, a empresa Hup, que possui 750 clientes, comprou a Fast Bahia como estratégia de expansão para o Nordeste em 2017, mais precisamente Salvador, no primeiro trimestre, e Recife no segundo, e está em processo de migração de rádio para fibra óptica, que já compreende a 65% da rede. Segundo o diretor executivo, os pequenos provedores precisam investir em infraestrutura de rede e sistemas que permitam oferta de produtos com maior velocidade e disponibilidade, para concorrer com grandes provedores e operadoras. "Com a redução do crédito e taxas de juros elevadas, estes investimentos tornam-se mais difíceis. A carga tributária também impacta as margens de forma significativa. Estes recursos poderiam ser utilizados para geração de mais empregos, melhores salários e atualização tecnológica", conclui.

QUALIDADE
Em um artigo recente, intitulado "Ser justo com o usuário é o melhor caminho", o engenheiro e gerente de Implantação e Produção da Cianet, Pedro Quatrone, apresenta um ranking que classifica os países conforme a conectividade deles à internet, no qual o Brasil aparece na 78ª posição em disponibilidade de conexões e 58% da população conectada, atrás de Trinidad e Tobago, Polinésia Francesa e até da Groenlândia. Para o engenheiro, essa classificação coloca o país em uma posição desconfortável, ao revelar a fragilidade das conexões.

"Se o ordenamento for feito ao analisar uma das principais características das conexões (a velocidade), caímos dez posições na tabela e vamos para a 88ª colocação", afirma Quatrone. Segundo explica o engenheiro, a média de navegação no Brasil é de 4,1 Mbps - um pouco atrás do líder da América Latina, o Uruguai, cujos dados fluem a cerca 6,2 Mbps. Na Coreia do Sul, líder mundial, a média é de 26,7 Mbps. Para ele, essa discrepância na velocidade oferecida aqui ocasiona quedas constantes, taxa de transferência menor do que a contratada e controle no consumo de pacote de dados móveis, para não acabar com a franquia e ter a velocidade ainda mais reduzida.

De acordo com o engenheiro, mesmo que exista um oligopólio nas comunicações do Brasil, com 85% da banda larga brasileira sob o controle de apenas três grupos empresariais, os ISPs têm o maior percentual da base de clientes em comparação com as grandes operadoras, principalmente em áreas onde elas não têm grande atuação. "Nesse contexto, a surpresa é que mesmo sem acesso às linhas de crédito públicas como as operadoras, os provedores têm crescido - não só na base de clientes, mas, também, na velocidade das conexões oferecidas, sem franquia de dados e com recursos próprios", afirma o autor do artigo.

Em sua publicação, Quatrone informa que as 2.200 empresas que fazem parte dessa categoria no país somaram, no final do primeiro trimestre do ano, 2,4 milhões de acessos. "Com um crescimento de 5,5% em relação ao ano anterior, elas ajudaram o país a sair da desaceleração pela qual passou o segmento e contribuíram para o acréscimo de 126,8 mil acessos. Isso mostra que ser justo com o usuário é o melhor caminho", enfatiza.

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