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Cidades Inteligentes

Muitas pessoas, quando ouvem falar sobre cidades inteligentes, logo imaginam as metrópoles altamente conectadas, como nos filmes de ficção científica, que já dominam, inclusive, a inteligência artificial. Embora ainda não tenhamos alcançado essa fase, estamos caminhando para isso. Segundo Washington Tavares, Chief Technology Officer (CTO) da Tacira, empresa brasileira especializada em soluções para cidades inteligentes, que inclui integração e informação consolidada entre as soluções, os centros urbanos serão o verdadeiro motor de transformação do estilo de vida e da economia do mundo nas próximas décadas. De acordo com Tavares, em seu artigo intitulado "A inteligência das cidades está na maneira como suas informações são utilizadas", para suportar essa concentração de pessoas, muita tecnologia e inovação são necessárias para garantir o bom funcionamento dessas cidades. Entretanto, para tornarem-se realmente inteligentes, o CTO diz que é fundamental que, além de uma maturidade social e tecnológica, os municípios identifiquem seus potenciais e melhorem seus processos de políticas públicas, para otimizar seus recursos e gerar valor direto ao cidadão. "Falar de cidades inteligentes pode trazer certo receio, pois está associado a algo complexo e difícil. Mas tornar uma cidade mais inteligente, eficiente e sustentável não é tão complexo quanto se imagina", afirma o especialista. Em entrevista concedida à nossa equipe do CIO (NE), Tavares fala como a gestão pública pode superar as dificuldades e ainda apresenta um modelo de planejamento estratégico com o passo a passo para criar cidades inteligentes.

Em seu artigo, você afirma que é possível trazer inteligência direta para uma localidade sem nenhum tipo de conectividade, tornando-se uma cidade inteligente sem que, para isso, precise se tornar digital e conectada. De que forma isso seria possível?
Temos vários exemplos: Waze, Uber, Moveit, etc. Aplicativos mobile são ótimos exemplos de inteligência nas mãos do cidadão sem a necessidade de uma infraestrutura pública de conectividade.

Tavares, você acredita que as cidades devem evitar os projetos top-down, "onde as soluções são definidas sem, necessariamente, agregar valor para o cidadão", optando por projetos que acrescentem importância e melhorem a vida do cidadão. O que isso significa na prática e por que é importante incluir as pessoas em processos inerentes às cidades inteligentes?
Para que serve uma solução pública que não gere benefícios ao cidadão? Nada na administração ou gestão pública deve ser feito sem ter, em mente, o benefício direto ou indireto para a população.

O Nordeste costuma ser lembrado por seu avanço lento em inovações, principalmente no que se refere à tecnologia, mesmo assim, qualquer cidade pode se tornar inteligente? Quanto tempo leva essa transformação?
O Nordeste tem ótimos projetos de inteligência, sim! E é justamente nas áreas menores e mais necessitadas onde devem ser aplicadas as soluções capazes de fazer mais com menos. A transformação pode acontecer em poucas semanas, dependendo do tipo de solução sendo implantada.

Qual o maior desafio que as administrações públicas podem enfrentar para tornarem uma cidade inteligente? Tem a ver com cultura, comportamento e adaptação?
O maior desafio são os modelos de contratação dos serviços e soluções. Depois vem o quesito continuidade pós-gestão atual. No Brasil, as maiores barreiras são na efetivação dos negócios.

Quais são as etapas necessárias para se tornar uma Cidade Inteligente? Como as empresas públicas e privadas podem contribuir com essa nova cultura?
Muitas vezes o tema Smart Cities causa um certo medo nos gestores públicos, já que é sempre associado a algo complexo e difícil. Se tornar uma cidade mais inteligente, eficiente e sustentável não é tão complexo como se pensa. Como sempre digo: Pense grande, mas comece pequeno.
Isso pode ser obtido através de um planejamento estratégico ágil, baseado nas melhores práticas que o TM Fórum - através do Smart City Forum - está desenvolvendo. Como você pode ler em etapas necessárias de como criar este planejamento de forma rápida e precisa.


ETAPAS NECESSÁRIAS PARA SE TORNAR UMA CIDADE INTELIGENTE:

Identificação dos objetivos globais
Ser smart não significa implantar tecnologias baseadas em ciência de foguetes. Ser smart significa utilizar soluções tecnológicas capazes de fazer mais com menos e com impacto direto no cidadão. E tudo se inicia na identificação dos objetivos globais. Tais objetivos globais são o guia para identificar os caminhos a serem seguidos e isso pode ser feito respondendo a algumas simples perguntas:

- Quais são os principais problemas que a gestão pública enfrenta atualmente?
- Quais são os desafios que deverão ser enfrentados nos próximos 10 anos?
- Quais são as principais necessidades da população?

Com as respostas para essas perguntas, deve-se organizá-las em tópicos genéricos e não em assuntos específicos. Os assuntos específicos serão tratados na sequência. Alguns passos são chaves na construção dessa visão global:

- Encontre um líder visionário
- Monte um time de trabalho dedicado e misto
- Comece da visão macro
- Defina as métricas
- Priorize os objetivos
- Envolva experts em temas específicos

Entendendo as necessidades específicas e os valores a serem gerados
Após a identificação dos objetivos globais, e criada a visão global, já teremos a visão inicial de onde se quer chegar. Agora se torna necessário identificar as necessidades específicas apontadas pelos objetivos priorizados. Isso pode ser feito através de diferentes formas:

- Revisão do plano diretor da cidade
- Pesquisas públicas de necessidades
- Grupos de trabalho em comunidades

Aqui, o próximo passo é identificar as diferentes necessidades e fazer o mapeamento das soluções propriamente ditas.

Mapeando ações e soluções para gerar o valor para cada necessidade
Um valor a ser gerado nada mais é do que um conjunto de ações ou serviços que a cidade irá prover ao cidadão, com o objetivo de melhorar a sua vida ou de resolver um problema específico. Vamos usar como exemplo a Saúde: as longas filas de espera nos postos de atendimento são sempre a causa de falta de qualidade no serviço público e fonte de muitos problemas. Para resolver este problema, podemos propor a seguinte geração de valor: agendamento online de consultas médicas e visualização do tamanho da fila de espera em tempo real através da internet. Uma ferramenta muito útil para o mapeamento das soluções é o Business Model Canvas (BMC). Com eles, podemos seguir um passo a passo onde iremos definir cada característica dessa solução. O BMC deve ser preenchido na seguinte ordem:

- Identificando os clientes: quem são os clientes e usuários da solução. Ex.: cidadão com problema de saúde.
- Criando a proposta de valor: qual o benefício ou problema que será resolvido. Ex.: agendamento online de consultas médicas e visualização do tamanho da fila de espera em tempo real através da internet.
- Entendendo o relacionamento e seus canais: quais serão os canais de relacionamento e comunicação. Ex.: website e aplicativo para celular.
- Listando as atividades e recursos: quais as atividades e recursos necessários para a entrega da proposta de valor. Ex.: sistema de agendamento online e Sistema de gestão de fila de espera.
- Elencando os parceiros: todos os fornecedores envolvidos na entrada da proposta de valor.
- Definindo os custos e receitas: custos necessários para a viabilização da proposta de valor.

Pronto para a execução
Ao seguir este simples procedimento, será possível ter uma visão global do plano estratégico bem como um mapa com todas as informações necessárias para a execução deste plano. Leia a revista
Editorial, 30.SETEMBRO.2016 | Postado em Entrevista

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