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Uma fórmula de sucesso no Nordeste

No campo Se por um lado, os jovens de Fortaleza estão empenhados em desenvolver novos aplicativos e criar softwares na Unifor, no interior do estado, o Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Ceará (Centec) está apoiando empreendimentos inovadores no campo. O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja. Por tanto, para se manter na liderança, necessita de bons projetos para melhorar cada vez mais a produção do setor primário da economia.O futuro de Rodolfo de Oliveira, 20, talvez fosse diferente se ele não tivesse conhecido o Centro de Inovação da Microsoft, para os íntimos, MIC (sigla das palavras em inglês Microsoft Innovation Center). Em 2011, o garoto de 16 anos sentia apenas entusiasmo por computadores quando assistiu uma palestra sobre o Programa Student To Business (S2B), na Escola Referência de Ensino Médio Nóbrega, em Recife.

No mesmo ano, ele ingressou e formou-se no S2B, que capacita estudantes na área de TI com cursos de Desenvolvimento de Sistemas, Infraestrutura de TI, Web-design e Banco de Dados. Foi na Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (ETEPAM), que ele começou a desenhar os anos seguintes de sua vida com os dispositivos concedidos pela Microsoft. Atualmente, Rodolfo cursa o 6º semestre de Ciência da Computação, na Universidade Federal de Pernambuco e tem uma qualificação que muitas empresas de tecnologia buscam no mercado. "O programa me ajudou a decidir qual carreira seguir. Graças a ele, também antecipei assuntos que mais tarde passei a ter acesso na universidade", diz.

Após a formatura no programa, o estudante tornou-se instrutor, participou de treinamentos oficiais da Microsoft e, em março, chegou à final de uma competição de TI da Microsoft, a Imagine Cup. O projeto que o levou à final, com mais três estudantes do programa, foi o 'joinie', aplicativo que permite encontrar serviços profissionais de maneira rápida. O joinie foi escolhido entre 25 projetos de vários estados do país para disputar a final, este mês, em Curitiba. Um dos três times vencedores desta etapa será escolhido pela matriz da Multinacional para representar o Brasil na final mundial da competição, em Seattle, nos Estados Unidos.

O diretor de inovação e novas tecnologias da Microsoft, Richard Chaves, conta que alguns times brasileiros já venceram a competição mundial. "Os vencedores de edições anteriores conheceram pessoalmente Bill Gates, por intermédio da Microsoft", relata. Independentemente do resultado, Rodolfo pretende investir na ferramenta. "Nosso projeto tem mercado. Estamos focados agora no plano de negócio, em descobrir uma maneira de conseguir lucrar com ele", relata. Assim como Rodolfo, cerca de 1500 alunos já se formaram em cursos da área de TI durante os seis anos de existência do MIC ETEPAM. Destes, 70% ingressaram no mercado de trabalho, segundo o coordenador do Centro, Francinildo Klayson.

Em todo o país são mais de 100 mil pessoas capacitadas pelo programa da Microsoft, das quais, mais de 10 mil já atuam profissionalmente na área. Atualmente há 13 MICs no Brasil, três deles no Nordeste - dois em Pernambuco e um em Fortaleza. A estrutura é semelhante em todos os estados: a Microsoft entra com equipamentos, software, suporte técnico e material didático, e o governo estadual ou federal entra com disponibilização de espaço e mão de obra. O MIC ETEPAM conta com um laboratório de treinamento com 18 computadores, um laboratório de estudo com nove computadores, uma sala de reunião e espaços para os desenvolvedores. "Um programa como esse abre muitas portas. O aluno cria o seu network, compreende melhor os programas da Microsoft, uma das maiores empresas em software, aprendem a desenvolver aplicativos e a empreender. É uma experiência única, que deveria ser expandida para toda a região", opina Francinildo.

A procura pelos cursos é grande. Na última edição do MIC ETEPAM, 3.700 pessoas se cadastraram. Apenas 1.500 passaram para a segunda etapa e 56 se formaram. O número de inscrições mostra que os jovens estão mais interessados em se qualificar, e que projetos como esse são cada vez mais necessários.

Investimento O último levantamento realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) revela que, em 2012, o Brasil investiu 1,24% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, dos quais 0,64% foram recursos públicos e 0,56% da iniciativa privada. O investimento privado se aproxima dos R$ 22 milhões, se levarmos em conta o PIB em valores correntes de 2012, que chegou a R$ 4,4 trilhões. Os números são relativamente tímidos se comparados a países como Coreia do Sul, cujo investimento do setor privado é quatro vezes maior (2,68% do PIB) e China, 1,22%. O investimento em pesquisa e desenvolvimento por meio da cooperação entre empresa, universidade e escolas, impulsiona uma iniciativa importante para o país, que são os pedidos de patentes. Elas medem o grau de inovação e produtividade nacional.

Em 2012, os Estados Unidos registraram quase 2.500 patentes, enquanto o Brasil não chegou a registrar 270, conforme relatório da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). Entretanto, as últimas iniciativas, demonstram que o país está ampliando este modelo, principalmente, na região Nordeste.

Desde 2013, a Microsoft já investiu mais de R$ 219 milhões em projetos de capacitação, qualificação profissional e empreendedorismo em todo o país. Mais de 11 milhões de pessoas foram capacitadas, desde 2012 cerca de 4.500 startups foram apoiadas por meio do Bizspark - programa da multinacional, que investe em startups com doação de software e mentoria. Ao todo, foram investidos R$ 2,5 milhões no Bizspark. Para Richard, gerente da Microsoft, trata-se de uma tendência em constante crescimento. "Tanto no meio acadêmico como no comercial, eu vejo cada vez mais interesse do setor público e privado em apoiar e explorar estudantes.

O crescimento em competitividade, é uma questão de tempo", afirma. Ele ressalta que, recentemente, um participante do programa da Microsoft foi contratado pela empresa e encaminhado para uma matriz nos Estados Unidos. "Ao ver o resultado do nosso investimento, nos sentimos gratificados. Orgulha-nos saber que conseguimos gerar potencial. É uma maneira de retribuir o apoio que o país nos dá com instalação de empresas", conta.


A IBM também está investindo massivamente em qualificação de mão de obra. Nos últimos dois anos, por exemplo, a multinacional traçou como estratégia aplicar 7% de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Em julho de 2011, foram doados U$$ 50 mil à Organização Não Governamental brasileira Associação Telecentro de Informação e Negócios (ATN), para criar e expandir uma rede de ONGs e de pequenas e médias empresas na América Latina. O objetivo da rede é disseminar boas práticas de tecnologia, aumentar a sustentabilidade de instituições dessa natureza e viabilizar o desenvolvimento econômico do Brasil.

No Ceará, a empresa estabeleceu uma parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor) para criar o Blue-Lab, laboratório de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica. O laboratório foi inaugurado em 2013 e contou também com o apoio da Flextronics. Nos dois primeiros anos de funcionamento, cerca de 200 alunos foram capacitados com 300 horas de cursos em tecnologia e conceitos como "big data" (gestão da informação) e aplicativos móveis. A IBM doou todo o conteúdo de software e também forneceu capacitação aos professores. Graças ao projeto, os alunos desenvolveram, recentemente, um aplicativo chamado TI Carreira, utilizando software IBM. A ferramenta fornece dados aos estudantes sobre áreas profissionais, ajudando-os assim, a decidir qual carreira seguir.

A empresa também investe em competições, como a maratona da mobilidade, na qual os estudantes têm três meses para desenvolver um aplicativo e apresentá-lo durante um concurso. O objetivo de manter parcerias como essas, segundo Marcela Vairo, gerente de Cloud Software amp Desenvolvimento de Ecossistemas da IBM Brasil, é criar recursos para o mercado de trabalho brasileiro. Unir mercado, recursos e academia. "Uma vez que capacitamos pessoas para o mercado de trabalho e geramos conhecimento, estamos ajudando o país a se tornar mais produtivo e, consequentemente, mais competitivo", opina.

Ela conta que alguns alunos que se destacaram nas competições da empresa ou nos cursos de qualificação e formação acadêmica, já foram chamados para atuar na IBM. "Não só é comum que estes estudantes integrem o time IBM, como indicamos, com frequência, o contato dos coordenadores dos cursos para empresas parceiras que nos procuram em busca de mão de obra qualificada", afirma.

Formação acadêmica
O êxito em parcerias público/privadas, envolvendo empresas de tecnologia, não se restringe apenas a projetos de nível técnico. Na universidade de Fortaleza, o Núcleo de Aplicação à Tecnologia da Informação (NATI) abriga três grandes laboratórios criados a partir de parcerias com gigantes de TI. Além do Blue-lab, que conta com a parceria da IBM, funcionam na instituição, o laboratório de inovação, por meio de uma parceria com a Dell, e do laboratório de Mobilidade, que contou com o apoio do Sistema Verdes Mares, um aglomerado de empresas de comunicações do Ceará.

Atualmente, o núcleo é referência no Nordeste. Cerca de 1.307 docentes já foram qualificados, sendo que 264 são doutores, 760 são mestres e 252 são especialistas. A área de inovação do núcleo conta com 40 estagiários em formação. No ano passado, dois estagiários foram direcionados ao mestrado, cinco foram direcionados ao mercado, nove publicaram trabalhos científicos e um foi contratado pelo NATI.

No ano passado, foram desenvolvidos no NATI 12 projetos com empresas a partir da participação direta dos alunos. No laboratório de inovação, por exemplo, os softwares são desenvolvidos por meio de projetos multidisciplinares. "Digamos que um aluno de medicina pense em desenvolver uma plataforma voltada para a área. Eu levo esta ideia e o prospecto dos alunos no último ano de conclusão de cursos de TI ao NATI, e sugiro que o projeto seja tema de TCC destes estudantes", relata Eurico Vasconcelos, coordenador de inovação e negócios do núcleo.

Da integração entre as diversas áreas da Unifor nasceram projetos reconhecidos nacionalmente por meio de premiações. Um deles é o Odonto Quis, um farework de jogos de apoio à docência, apresentado na disciplina de próteses, do curso de Odontologia. A ferramenta possibilita aos alunos, aprender de forma lúdica, por meio de gráficos interativos e questionários. "Antes essas ideias não eram levadas à frente, porque não havia interação entre os cursos da universidade. Agora elas se transformam em produtos brilhantes", relata Eurico. O NATI já funciona há 15 anos e, atualmente, é um braço do mercado de TI dentro da Universidade.

O cadastro no Comitê da Área de Tecnologia da Informação (CATI), do Ministério de Ciência e Tecnologia facilita a prospecção de investimentos privados. O registro é obrigatório para receber apoio de empresas por meio da Lei 11.077/04, conhecida como lei da informática, que concede incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia (áreas de hardware e automação), em troca de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento.

Segundo ele, esse é um dos passos mais importantes para começar a firmar parcerias, mas não o único. Eurico conta que o NATI também trabalha com outros eixos de recebimento de apoio, como projetos de subvenção econômica e investimento direto. "As parcerias por meio da lei da informática são as que investem mais, em torno de R$ 300 mil. Mas hoje também contamos com parcerias menores, de empresas que querem submeter algum projeto de inovação ou que precisam de mão de obra qualificada para desenvolver determinados produtos. Antes, quando recebíamos propostas, apresentávamos competências, mas estas empresas não querem apenas competência. Elas querem ideias, e ideias em andamento. É o que temos hoje e o que nos torna competitivo", explica.

No campo

Se por um lado, os jovens de Fortaleza estão empenhados em desenvolver novos aplicativos e criar softwares na Unifor, no interior do estado, o Instituto Centro de Ensino Tecnológico do Ceará (Centec) está apoiando empreendimentos inovadores no campo. O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja. Por tanto, para se manter na liderança, necessita de bons projetos para melhorar cada vez mais a produção do setor primário da economia.

Pensando nesta demanda, o Centec, empresa privada sem fins lucrativos, aceitou um desafio proposto pelo governo do estado em 2002, o de descentralizar o conhecimento da capital para o interior. Em 2003, o lançamento de um edital do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no valor de R$ 300 mil, viabilizou a materialização do que antes era apenas um sonho. "A partir do edital, nós criamos o programa Instituto Intece, que é uma incubadora, localizada dentro do Centec", explica Sueli Vasconcelos, gerente de empreendedorismo e inovação do centro. Não deu outra, o projeto deslanchou. Atualmente o Intece conta com 32 empresas incubadas. As startups do semiárido desenvolveram projetos inovadores premiados Brasil a fora. Um deles é o de produção de mudas in vitro, desenvolvido pela Bio Clone, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária (Embrapa). Juntas, as empresas desenvolveram a primeira biofábrica do Nordeste, conforme Sueli Vasconcelos.

Em 2012, a Bio Clone foi a segunda premiada na categoria Melhor Empresa Graduada, da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, graças ao empreendedorismo e inovação. Dono da empresa, Roberto Caracas, conta que já conseguiu captar quase R$ 1 milhão em projetos nas agências de fomento à inovação.

O processo de micropropagação, expertise da Embrapa, consiste na clonagem de mudas, a partir de um material colhido do campo e conservado em recipientes dentro de laboratório. O método era utilizado apenas para pesquisa, mas com a necessidade de expansão do agronegócio, passou a ser utilizado como técnica de produção.

Em 2012, a Bio Clone foi a segunda premiada na categoria Melhor Empresa Graduada, da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, graças ao empreendedorismo e inovação. Dono da empresa, Roberto Caracas, conta que já conseguiu captar quase R$ 1 milhão em projetos nas agências de fomento à inovação.

O processo de micropropagação, expertise da Embrapa, consiste na clonagem de mudas, a partir de um material colhido do campo e conservado em recipientes dentro de laboratório. O método era utilizado apenas para pesquisa, mas com a necessidade de expansão do agronegócio, passou a ser utilizado como técnica de produção.

Em relação às bananeiras, uma das espécies utilizadas pela incubada, a clonagem é responsável por um aumento significativo na produção de frutos, se comparado com a técnica tradicional do plantio. A partir de apenas um rizoma, material presente no caule da árvore, é possível gerar até 200 mudas. Já no método tradicional, essa proporção é de um rizoma para seis novas plantas. Apesar da dificuldade de manter o instituto apenas com edital e parcerias, Sueli Vasconcelos acredita que o Centec superou o desafio proposto pelo governo e mostrou que, mesmo no interior, é possível fomentar inovação e fazer com que as empresas se tornem competitivas no mercado. "A inovação não se restringe a grandes laboratórios ou a projetos relacionados à Tecnologia de Informação.

Essas empresas se tornam inovadoras quando criam algo e conseguem ampliar as vendas a partir de novas ideias. Saber que essas pequenas empresas estão contribuindo para o desenvolvimento do país e, consequentemente, para a qualidade de vida, é motivo de muito orgulho e satisfação", opina.

Inclusão digital

Em Alagoas, o que está em jogo é a inclusão digital. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que apenas 34,3% da população alagoana têm acesso à internet, o que leva o estado a ser um dos últimos do ranking brasileiro. Alagoas está à frente apenas Pará (30,7%), Piauí (24,2%) e Maranhão (24,1%). Os mesmos dados do IBGE mostraram, entretanto, que de 2005 a 2011, o estado registrou o maior crescimento do país de acesso à internet (400%).

Para manter o ritmo, o governo do estado firmou, em fevereiro, uma parceria com a Associação Telecentro de Informação e Negócios (ATN), organização sem fins lucrativos, vinculada a várias empresas de tecnologia. A parceria possibilitará que, a partir do próximo mês, a população tenha acesso a cursos de qualificação profissional, como o de informática, nos telecentros do estado. A matrícula terá que ser feita nos espaços de inclusão, mas os alunos poderão dar continuidade ao curso online em casa. "É uma maneira de despertar o interesse pela internet. Se o aluno aprende a lidar com informática, passa a gostar mais de tecnologia e de manter-se conectado", relata Robson Tafer, coordenador de Inclusão Digital do Instituto de Tecnologia em Informática e Informação.

Além dos cursos, a ATN também promove, anualmente, uma premiação aos melhores telecentros do Brasil. Na edição do ano passado, o Telecentro Comunitário Arnaldo Pereira da Silva, no município de Igaci, a 102 quilômetros de Maceió, foi agraciado na categoria sustentabilidade ambiental. A cidade, com 24 mil habitantes, concentra 75% de sua demografia na zona rural. Os monitores deste telecentro promovem aulas teóricas e práticas de informática, como também, realizam oficinas de educação ambiental e atividades em campo, a fim de que o conhecimento se materialize em atividades na área familiar e comunitária. Por esta estratégia pedagógica, o espaço foi premiado com notebooks pela ATN. Leia a revista

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