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Karma virtual pode elevar ou destruir uma reputação na rede

Toda ação gera uma reação. A afirmação remete à terceira lei de Newton, e também vale como máxima religiosa. Já proferida por muita gente, seja para explicar a lógica da força dos corpos, seja para a conformação dos atos praticados pelo homem, a frase, atualmente, ganha o universo da tecnologia. Trata-se de rastros digitais que podem ser negativos para a vida profissional e pessoal de internautas. Nesta entrevista, Paulo Crepaldi, especialista em Ciências Comportamentais Humanas e Neurobranding, fala sobre o Karma Virtual, novo conceito atribuído ao ambiente virtual, que desperta mais atenção entre os experts da área.

Porque se conceitua os rastros deixados na rede como Karma Virtual?
Quais seus impactos na vida do internauta? O karma ainda é visto por muitas pessoas como algo negativo, um castigo, algo que se deve pagar por não se cumprir de maneira positiva a "lição de casa". Mas, deixando de lado a religião e a ciência, essa nova terminologia surgiu com o envolvimento de muitos profissionais nas ferramentas da chamada Web 2.0 - Facebook, Linkedin, Twitter, Youtube etc. Você agora passa a ter um histórico inegável da sua vida desde que "você nasce". Pense que seu vídeo entra no Youtube quando seus pais decidem, sem a sua autorização, colocar cenas como quando ao chorar pelo seu time, ao representar uma cena hilária, comentários nonsense e ações que nem mesmo você entendia por que você fazia. Assim, seus pais também encontraram um jeito fácil de compartilhar e utilizar a sua imagem para divulgar a família. Vamos falar aqui de um terceiro tipo de parto, o virtual. É aqui que entra o seu Karma Virtual, que são os rastros digitais que você cria desde o primeiro contato na internet, podendo ser ou não criados por você. Os impactos podem ser positivos ou negativos e isso depende de como você gerencia seus posts, fotos, comentários e likes.
Eles poderão ou não auxiliar na sua marca pessoal para uma futura carreira, ou então, percepção criada para construir novos relacionamentos.

Existem regras de etiqueta, modos de se comportar em ambiente virtual?
No mundo offline conhecemos e sabemos muito bem como nos comportar em ambientes físicos. Qual roupa, talher ou vocabulário usar. Já no ambiente virtual não é muito diferente, ainda mais nos dias de hoje quando somos muito mais ativos virtualmente do que fisicamente. Ter noção do poder da linguagem verbal é extremamente importante, pois essa é a única forma que existe em um ambiente virtual, e está aberta a interpretações que a língua portuguesa disponibiliza. Portanto, a estratégia é usar adequadamente as palavras, fotos, imagens e, principalmente, dar referências sobre ao que você está se referindo (e isso deve ser em diversos canais). Toda essa estratégia poderá ser útil se algo de negativo lhe acontecer em rede.

Então, o que não se faz em público não se faz em ambiente digital?
Gosto muito dessa pergunta, e até acredito que a grande maioria das pessoas trocou um dito popular conhecido por: "diga-me quem segues e te direi quem és". Não interessa se falamos em público ou no meio digital. Nos últimos anos essa diferença não existe mais, e as pessoas têm dificuldade de saber o que é offline e online. É comum misturar tudo em um balaio só.

Quando se forma uma imagem negativa na rede, há possibilidades de contornar? A má imagem prejudica de que forma? Em qualquer mídia, a imagem negativa pode ser contornada. Basta conhecer um pouco sobre marketing ou então entender mais sobre como as marcas constroem sua reputação. E, claro, seu Karma Virtual poderá lhe prejudicar no futuro, ou então, potencializar sua marca pessoal.

O Karma pode ser positivo? E quanto aos efeitos positivos, quais são eles e como impactam na imagem virtual?
Sim, karma, sem dúvida alguma, pode ser positivo. Ser positivo é o que ele mais faz para nós no ambiente online. Utilizamo-nos do karma para mostrar aos amigos o quão somos felizes, nossas conquistas, locais que frequentamos etc. As pessoas criam imagens e percepções de como queremos ser vistos pela sociedade. Um bom Karma Virtual pode ser positivo, principalmente, quando ocorre uma busca pelo seu nome, em uma determinada rede, e aparecem os posts divertidos, inteligentes e queridos por muitos outros usuários.

De que forma uma pessoa é exposta negativamente? E na profissão, como isso pode afetá-la? Ao ser exposto negativamente, significa que algum rastro, recente ou não, impactou alguém provocando algum tipo de ira por não concordar ou acreditar que foi ofendido publicamente em um ambiente online. Como estamos conectados por meio de nossos diferentes devices e, principalmente, smartphones, as pessoas são expostas. Assim, o poder de espalhar tal karma é tão ágil que, ao percebermos, já estamos sendo afetados por pessoas e por um mundo que não conhecíamos antes, o que prejudica nossa habilidade social sendo ela profissional ou pessoal.

O que publicar e o que evitar? Há implicações jurídicas quando se posta alguma coisa inadequada ou abusiva?
Não tenho muito conhecimento sobre a área jurídica, mas sim, existem sanções e leis para o ambiente virtual que são tão drásticas ou punitivas quanto no mundo físico. Quanto ao que publicar, não existe uma regra. Mas, um pensamento que tenho é de que, se você acredita que irá prejudicar alguém, como um familiar, amigos ou até mesmo pessoas que desconheça, dando a entender algo que não é exatamente aquilo que você quer dizer, então não publique. Ao escrever ou escolher uma foto, pare e pense duas vezes antes de clicar em publicar. Não seja imediatista, pois, no mundo do clique, rapidez é um atributo incontrolável.

Como usar as redes sociais a seu favor?
Seja autêntico e transparente. Não utilize as redes sociais para diagnósticos ou comentários radicais. Lembre-se de que o que você pensa hoje pode ser muito diferente daquilo que pensará daqui a 10 anos. Com o passar do tempo, você poderá se arrepender. E muito.

Dê, por favor, exemplos de casos polêmicos sobre Karma Virtual.
Um excelente exemplo é o do ex-BBB Laércio, caso recente de como o Karma Virtual atrapalhou sua imagem. Outra situação é o caso do MasterChef Júnior. As menções em um mundo virtual podem permanecer e ser parte da sua vida mesmo quando criança. Tem, ainda, o caso do famoso Bar Quitandinha, em São Paulo, que sofreu um ataque através do Facebook e tentou se retratar usando da mesma ferramenta. E a empresa de sorvetes que criou uma história falsa para posicionar seu produto e foi alvo de ataque na internet pelos consumidores. São muitos casos e ocorrem com frequência.T Leia a revista

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