A seção Matéria de capa é apoiada por:

Altamente competitiva, a energia eólica é a fonte que mais cresce no Brasil

Os bons ventos que sopram pelo Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sul, geram uma das fontes de energia que mais cresce no país: a eólica. A utilização desse recurso renovável e altamente competitivo evoluiu de forma impressionante nos últimos anos. Na comparação entre 2010 e 2015, a captação
desse tipo de energia pulou de 931 MW (megawatts), para 9.855 MW - prevista até
dezembro próximo. Ou seja, em cinco anos houve expansão de cerca de 10 vezes.
 
Entre 2014 e 2015 - até o mês de setembro - o crescimento avaliado foi de 25,8%, sendo que o ano passado foi considerado histórico em geração de energia eólica. De acordo com o engenheiro de controle e automação especialista em gestão de projetos, Giancarlo Smith, que é também diretor técnico da Fóton Energia Inteligente, responsável por projetos de eficiência energética e energias renováveis, o país tem, hoje, 7.500 MW instalados
e 10.590 MW em construção. "O Brasil ficou colocado entre os 10 países
que mais investiram em energia renovável no mundo em 2014, segundo a ONU.
Somente em energia eólica foram investidos US$ 6,2 bilhões em 2014".
 
Dados da Organização de Energia da America Latina (OLADE), indicam que
projetos eólicos ambiciosos estão em desenvolvimento na AL, em especial no
Brasil e no México, mas também em Costa Rica, Argentina, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru e República Dominicana. Entretanto, o Brasil é destaque no que se refere à investimentos em energias renováveis, sendo responsável por 34% dos investimentos em 2014.
 
COMPETITIVIDADE E COMPLEMENTARIEDADE
A eólica, no Brasil, é a segunda fonte de energia mais competitiva em relação a
custos. Perde somente para a energia hidrelétrica. O avanço tecnológico, entre
outros fatores, é um dos principais propulsores que a classifica em segundo
lugar em competitividade. Nesse sentido, o aumento da altura dos aerogeradores, diâmetro das pás e rotores, e a superioridade do regime de ventos brasileiros em comparação à de outros países torna a geração de eólica ainda mais forte.

Outra contribuição é da competição no setor, acirrada pela disputa do mercado brasileiro pelos grandes fornecedores mundiais. O impacto da eólica para o setor energético do Brasil é muito positivo devido à complementariedade existente entre ela e a hidrelétrica, por exemplo. A combinação dessas usinas proporciona um sistema de maior confiabilidade, pois a energia eólica gerada pode preservar o consumo de água dos reservatórios, o que aumenta o fator de capacidade das usinas hidrelétricas e, consequentemente, dispensa a ativação das termelétricas.
 
Esse fato se torna ainda mais relevante ao considerar que a geração de eólica no Brasil é maior no período de menor volume dos reservatórios do Sudeste e do principal sistema de geração hidrelétrica do Nordeste, a bacia do São Francisco. "Particularmente, no caso do Nordeste, que tem forte dependência da geração hidrelétrica no Rio São Francisco, esta geração complementar
permitirá a utilização da água desta bacia para outras finalidades como a irrigação agrícola, contribuindo, não somente com a complementariedade de geração de eletricidade, mas também para o melhor uso de recurso escasso na região", diz o engenheiro Smith.
 
COMPONENTES DOS GERADORES
O Brasil domina a tecnologia de produção dos principais componentes do gerador eólico e de boa parte de seus subcomponentes. Estão instalados no país 10 fabricantes de aerogeradores que atendem ao consumo de insumos eólicos do setor nacional. Além do parque industrial instalado, tem-se a cadeia de fornecimento estabelecida e incentivada pelas regras de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que exige o aumento gradual da nacionalização dos componentes. Não é à toa que a segunda maior produtora de pás eólicas do mundo é uma empresa totalmente
brasileira, a Tecsis - Tecnologia e Sistemas Avançados S/A. Conforme relatório da Associação Brasileira de Energia Eólica - ABEEólica, de setembro deste ano, a geração eólica respondeu por 5,1 % do total gerado no país no mês de setembro enquanto a geração a carvão respondeu por 2,6%. Em relação a preço, a eólica é bastante competitiva. Como exemplo, no leilão de energia
realizado em 2014, o preço médio de venda de energia eólica foi de R$ 136 por MWh enquanto a energia térmica com fonte no carvão foi em R$ 201,88.

TECNOLOGIA
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Altino Ventura Filho, observa que a tecnologia é fundamental para o aumento da geração de energia eólica. "As torres hoje são muito mais altas, vão aonde se tem mais vento. Há quatro anos, só era
possível alcançar 50 metros. Hoje podemos ter torres de até 140 metros. Os aerogeradores mais modernos podem chegar à 3 MW de potência, e isso só é possível por causa da tecnologia. Mas é claro que ainda existem dificuldades com o peso dos geradores, que tornaram-se muito mais pesados", disse Ventura.
 
Segundo ele, no Brasil, atualmente o Rio Grande do Sul e todo o Nordeste se destacam na produção de eólica, pois as regiões são mais favoráveis ao vento. "Todo o país é favorecido por sua condição climática. As estações são semelhantes e os ventos uniformes, mas nessas duas regiões existe uma permanência da velocidade do vento, que caracteriza a ausência de rajadas
e constância na geração de energia. Os ventos brasileiros conferem um elevado
fator de capacidade nacional, permitindo alcançar picos de mais de 50%. Nos países europeus, o fator médio é de apenas 30% e nos Estados Unidos, 35%".
 
No ano passado, a energia eólica representava 2% da produção energética do Brasil, com produção de 3,7 mil MW. Com o Plano Decenal de Energia (PDE-2023), do Ministério de Minas e Energia, serão 11,4 mil MW, e passa a representar 8,3%. "É a fonte que mais cresce no país, em torno de 20,8% ao ano", disse o secretário que ainda enumera: "depois é a nuclear (5,7%), a biomassa (5,5%), o gás industrial (5%) e a hidrelétrica (4,3%)".
 
NORDESTE
Na região Nordeste, ainda se destaca a geração de energia elétrica a partir da
fonte eólica no Subsistema Nordeste. De acordo com a presidente executiva da
ABEEólica, Elbia Gannoum, no último dia 2 de novembro, por exemplo, foi verificado mais um recorde de geração eólica no Subsistema Nordeste, o qual representou 45% da carga deste subsistema, com um fator de capacidade de 85%, o que mantêm a tendência dos recordes de geração experimentados no referido Subsistema. Um estado nordestino que se destaca
atualmente é o Piauí. Segundo Gannoum, a forte inserção do Piauí se deve ainda a um momento de escassez de transmissão vivido por outros estados. "Com o esgotamento das margens de escoamento de energia nas regiões mais predominantes de eólica e também com as novas regras aplicadas nos leilões que priorizam conexão disponível e existente, o Piauí teve mais espaço para demonstrar a região promissora que é", observa ela.
 
No quesito fator de capacidade médio, conforme indica dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o destaque para a produtividade dos parques foi no Piauí (73%) e Ceará (52%). Esses fatores apresentados no período adquirem especial relevância quando comparados aos valores médios verificados em 2013, nos países com maior capacidade eólica instalada, como
a China (23,7%), os Estados Unidos (32,1%), a Alemanha (18,5%) e a Espanha (26,9%). O Rio Grande do Norte, com 60 usinas que registraram 633 MW médios, foi a maior geração por Estado. Depois vêm o Ceará (621 MW médios,
41 usinas) e a Bahia (328 MW médios, 33 usinas). Em capacidade instalada, o ranking também é liderado pelo Rio Grande do Norte (1.723 MW), com Ceará (1.201 MW), Bahia (842 MW), Rio Grande do Sul (715 MW) e Santa Catarina
(222 MW). O aumento da capacidade instalada em 2014 foi concentrado principalmente no Nordeste, que apresentou um crescimento de 174%, partindo de 1.451 MW e alcançando os 3.969 MW, provenientes de 156 usinas. O montante representa 80% da capacidade total de usinas eólicas do país.

GERAÇÃO DE EMPREGOS E AQUECIMENTO GLOBAL
Socialmente e economicamente, a indústria eólica tem trazido outros benefícios muito importantes como geração de emprego e renda para o país. O setor emprega hoje 33.700 trabalhadores na região e a expectativa é de empregar 125 mil trabalhadores nos próximos cinco anos. O arrendamento de terras aumenta
a renda da população e as prefeituras se beneficiam com o aumento do recolhimento do ISS - Imposto sobre Serviços. De acordo com presidente executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, a inserção prevista para a energia
eólica, ainda traz benefícios para um futuro renovável. "O Brasil tem, finalmente, a oportunidade de contribuir para a redução do aquecimento
global, para discussões climáticas e de políticas de baixo carbono de maneira
competitiva e ainda trazendo os benefícios de uma indústria que desenvolve toda uma cadeia produtiva, gera empregos, melhora o nível renda e investe em tecnologia. No ano de 2015, dos dois leilões já realizados, foram contratados pouco mais de 620 MW de potência eólica a um preço médio de R$179,31/MWh. Ocorre no próximo dia 13 de no vembro, mais um leilão de energia, no qual há expectativa de excelentes resultados", completa Gannoum.
 
Leia a revista

Carregando...